por Rogério do Nascimento Carvalho
As consequências das afirmações feitas por ministros na reunião ministerial do último dia 22 de abril prometem agitar os bastidores do poder na capital. Inicialmente a divulgação tinha como foco a confirmação das denúncias apresentadas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, mas que fica em segundo plano por causa das demais intervenções que demonstram o estilo adotado pelo presidente Jair Bolsonaro.
A capacidade no manejo político de ministros que, em momento da escalada de mortos e infectados causada pelos efeitos da pandemia no Brasil assusta pelo raciocínio nefasto ao indicar prisões arbitrárias e aleatória a membros da Suprema Corte, bem como a governadores e prefeitos. Neste caso, o óbice é discordar das ações do governo federal que, sem apoio da ciência, adota protocolos arriscados com o uso de cloroquina e da hidroxicloroquina. Já a quarentena, incomoda a retomada da economia, quando na verdade salva vidas e alivia o sistema de saúde, que se encontra colapsada em regiões do país.
A proporção de discursos que incitam o autoritarismo nas falas dos ministros da Educação, Meio Ambiente e da Mulher, Família e Direitos Humanos permeiam ações cuja origem está baseada na violência, demonstração de força e interpretação errônea da lei. A ausência de diálogo mostra o enfrentamento das instituições democráticas que visa impelir o fortalecimento da forma de governar.
Portanto, os maiores inimigos são todos os que não concordam com a política do presidente e de integrantes de seu governo, o que justifica, segundo estes, denegrir figuras públicas e de demais poderes da nação. O estilo peculiar e ímpar no trato com a cultura vernácula trará certamente repulsa da população, bem como articulação nos bastidores palacianos para alertar sobre o uso vulgar no trato federativo. Desta forma, fere-se a democracia que precisa responder prontamente ao autoritarismo em curso.
É conveniente lembrar que a história é recheada de governantes que, ao sentirem enfraquecidos ou acuados por investigações busquem acirrar discursos e utilizar-se da tática do medo. Por isso, a necessidade da afirmação presidencial na qual seu sistema de informações funciona melhor que o da Polícia Federal e de armar a população que julga de bem e são os seus apoiadores. A manutenção do poder não pode ser feita por qualquer método.
A divulgação da reunião ministerial mostra o apreço que o governo tem pelo autoritarismo e, no momento que busca apoio de setores fisiologistas no Congresso preocupa, pois residem figuras políticas rejeitadas pela população e aprofundará a instabilidade no país. Respostas precisam ser ágeis para evitar futuros derramamentos de sangue de compatriotas, bem como afastar o exercício do poder aqueles que utilizam do público para atender interesses privados.
Rogério do Nascimento Carvalho – advogado, pesquisador de conflitos armados, doutorando no Programa de Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (USP).
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