17:16Dias de reclusão

de Mário Montanha Teixeira Filho

Tenho pensado bastante nos dias reclusos. Pode ser aborrecido, mas não me parece que se deva conter a reflexão impulsiva. Há dramas interiores, que enfrento com relativa serenidade. Fiz uma porção de coisas durante o tempo que me foi dado, assim como deixei de fazer outro tanto. Fui demorado, reconheço, mas minha lentidão não me fez parar. Sigo com meus passos cansados, muitas vezes indecisos, sem sofrer a tentação do retorno.

Deixarei um legado importante para a humanidade? É certo que não. Minha ausência, quando acontecer, será a ausência do minúsculo, o apagar de um traço a ser rapidamente substituído por outro traço, firme e renovado. Seria pretensioso querer mais. Resta-me pegar o pouco de energia que ficou e buscar a compreensão do mundo, a transformação do mundo, a eliminação redentora das mazelas do mundo. Faço isso em completo silêncio, sem que ninguém perceba, como criança que sonha e se põe à frente de grandes acontecimentos, feito protagonista, feito herói.

O mundo segue, meio que que arrasado, e as pessoas repetem discursos antigos, brigam com as frases, fazem e desfazem planos, dividem lágrimas e retornam ao mesmo ponto, ao invariável ponto que nos separa a todos, à mesma dor que fere. O que é isso, afinal? Talvez o desfazimento desse nó seja mais simples do que alcança a aflição coletiva. Talvez o sol nos espere no próximo dia, na próxima esquina, no próximo beijo, e não numa era longínqua e incerta. Talvez, talvez, talvez…

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