Ainda gostava do que via no espelho
Um ar mais sério, uma cicatriz no joelho
Da infância e do mistério
A luz do beijo primeiro
O olhar-reflexo da alma seresteira
Cantando o vazio das horas
Dançando a música-poema
De uma tarde de cinzas-azuis
De uma noite sem mágicos enredos
Sozinha na madrugada
Sem a reta da estrada
Que confunde a partida
Da seta-retina
Com a curva-esquina
Os olhos miúdos
Os pés confusos
Mas o fundo do mundo
Estava a um palmo do escuro
De onde se via o espelho
Na rua do medo
Corria até ele
E abraçava a imagem
E a luz diminuía
Em uma vasta paisagem
De céus granulados de pássaros
De véus coroados de fardos
Vertigens minhas
Corria e sorria
Até o meio da imagem
Era eu a visão
Ou divisão refletida?
Voltava à escuridão
Despedaçava a luz-velocidade
E de joelhos no chão
Sentia a doce saudade
De uma ilusão
Que se chama verdade