11:03Elevação

de Fernando Muniz 

Olha para o relógio; ainda há tempo. Caminha pelo aeroporto em busca do portão de embarque. Não parece ser uma tarefa difícil, visto que o lugar é muito bem sinalizado.

Passa por pessoas em escrivaninhas, muito solícitas, mas que não sabem informar qual dos portões é o dele. Tudo bem. O ambiente é tão racional, lógico e organizado que não há o que temer.

Certo de que em breve o portão do seu embarque será anunciado, tenta se acalmar. Passa por quiosques e lojas sem qualquer atrativo, envoltas em uma névoa cinza. Pensa em comprar alguma coisa, ou tomar algo, mas desiste. Não faz sentido perder tempo com esse tipo de besteira.

Horas se passam. A tarde cai e as luzes começam a acender. Embora a iluminação transforme o aeroporto, realçando a inteligência arquitetônica do local, ele fica com a impressão que sempre passa pelos mesmos lugares. Mesmos rostos, escrivaninhas e quiosques, envoltos por uma névoa cinza.

Sente-se cada vez mais incomodado. Quer entrar logo de uma vez no avião, alçar voo e evoluir no céu; mas não consegue encontrar onde deve ir, por mais que se esforce em sua procura.

Após tanto vagar, percebe que, sempre, para no mesmo local, após ir e vir pelo aeroporto, não importando se vá pela direita ou pela esquerda. E, sempre, as dúvidas e apreensões o assaltam em frente ao mesmo portão de embarque.

Busca no bolso do seu paletó o bilhete da passagem e o passaporte. Deixa os pensamentos de lado e se dirige ao guichê. Apresenta os documentos e aguarda a resposta da aeromoça.

“Seja bem-vindo! E que sorte a sua. O senhor é o nosso último passageiro; estávamos prestes a encerrar o embarque”.

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