6:16No rescaldo da Copa, a taça é de Kolinda

por Célio Heitor Guimarães

O que o garoto mimadinho Neymar Jr. conseguiu com o cai-cai cenográfico e a pífia participação na Copa da Rússia? O que era esperado: deixou de ser um dos melhores jogadores do mundo – se é que um dia foi de verdade. Nem mesmo integrou a lista de candidatos, composta de três franceses, dois belgas, um português, um argentino, um croata, um inglês e um egípcio. Foi suplantado por veteranos e novatos, como o francês Mbapée, seu companheiro de PSG. E olha que havia três brasileiros (Ronaldo, Kaká e Parreira) no rol de especialistas-eleitores escolhidos pela Fifa. Um merecido castigo que nem o carinho da global Marquesine será capaz de amenizar. Aliás, com os conselhos do Neymar pai e a companhia do séquito puxa-saco dos parças, o Jr. terá de amadurecer muito e jogar muita bola para voltar a ser lembrado e deixar de ser motivo de chacotas internacionais. Hoje, não chega nem às chuteiras de Cristiano, Messi ou mesmo do ascendente Mbapée.

Tite tem culpa na desastrada performance de Neymar Jr. na Copa. Foi incapaz de pôr ordem no vestiário. Tirar a chupeta do bebezinho mal-acostumado e até tirá-lo do time para o bem da seleção. Mas não, preferiu investir na prima-dona, justificar a falta de qualidade dele em campo, assim como o fez com os coadjuvantes estrelados Gabriel de Jesus, William, Marcelo e Paulinho. Só não defendo a demissão do técnico porque não há ninguém disponível em terras de Pindorama para substituí-lo. Mano Menezes, talvez, mas este já sentiu na carne o modus operandi da CBF e provavelmente não queira mais saber dela. E então os impolutos comandantes do futebol brasileiro poderão ser capazes de escolher novamente o Felipão, Dunga ou Wanderley Luxemburgo.

A França mereceu ficar com a taça. Joga direitinho, tem gente que se afina com a bola e era a candidata da vez. De minha parte, achei a Bélgica a melhor seleção, com futebol eficiente, técnico, bem jogado e bonito de se ver. E a Croacia?

Bem, a Croácia merece um parágrafo à parte. Ou mais de um. A começar pelo técnico, Zlatko Dalic. Fora um jogador mediano e, como técnico, andava pelos Emirados Árabes quando foi convocado para dirigir a seleção mal das pernas, em situação periclitante nas eliminatórias. A surpresa foi geral. Até porque ele nem croata é; nasceu na Bósnia, outra das repúblicas nascidas da subdivisão da antiga Iugoslávia. Como Tite, uniu os jogadores e deu-lhes confiança.

No Mundial da França, a Croácia ficou em terceiro lugar. Vinte anos depois, chegou à final e poderia ter sido campeã do mundo. Foi um time disciplinado, que lutou até perder o fôlego contra a Inglaterra e mostrou ter jogadores de qualidade, como Modric, Rakitic e Mandzukic – não por acaso, um deles, o camisa 10 Modric, foi eleito o melhor da Copa.

O vice-campeonato ficou bom para a Croácia. Tanto que as comemorações em Zagreb foram de vitória, sobretudo em um país marcado pelo nacionalismo, às vezes até meio exacerbado. E o futebol teve o condão de unir todo tipo de gente, coisa que nem a política nem outro movimento social conseguiu – como observou Andjelko Ivanyko, diretor da Academia de Jovens do Dínamo Zagreb, um dos maiores times do país.

No entanto, a grande estrela da Croácia, cantada em prosa e verso, não joga bola, mas se fez presente na Copa em grande estilo. Chama-se Kolinda Grabar-Kitarovic. É uma louraça bonita de 50 anos, charmosa, bem humorada, que esbanja simpatia e, não por acaso, é a presidente da Croácia. Não da seleção, mas da República. E ofereceu algumas lições para o resto do mundo: a partir das quartas de final, embarcou para a Rússia para torcer pela equipe de seu país. Pagou as passagens e todas as despesas do próprio bolso. Escolheu um voo de baixo custo, sem mordomia e assentos comuns e viajou junto com a torcida. Fez mais: mandou descontar de seu salário os dias em que esteve fora do local de trabalho. Durante os jogos, na tribuna de honra que lhe cabia, envergando uma camiseta quadriculada em vermelho e branco, as cores da sua seleção, torceu, vibrou e sofreu como um torcedor comum.

Quem disse que mulher não pode ser presidente da República? E ainda por cima, linda, inteligente, sedutora e íntegra?

Bem que poderiam convidar a Kolinda Grabar-Kitarovic para presidir o Brasil!

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