20:45A ferramenta

Do blog Cabeça de Pedra

O que é que eu vou fazer? O cara mora aqui na frente do bar, pediu a ferramenta emprestada. Não sei dizer não – emprestei. Isso foi há seis meses. Todo dia eu dou de cara com ele quando levanto a porta do boteco. Ele parece que ri. Da minha cara. Aí vira as costas e vai embora. Não sei pedir o que emprestei. Parece até que eu é que estou fazendo uma desfeita. Isso sempre aconteceu comigo. Contei o caso para meu vizinho. Ele é encardido. Vi quando peitou o cara no portão da casa dele. Vi quando o outro, depois de um tempo, foi lá dentro e depois entregou o que emprestei. Meu vizinho me devolveu. Contou que o sonso quis dar uma de migué, mas foi lembrado só no olhar fuzilante. A ferramenta está enferrujada. Vou comprar outra. Preciso mudar de atitudes. Meu vizinho disse que era assim também, mas teve coragem para se transformar. Não empresta nada e, se tiver de cobrar, vai lá e fala. Eu queria ser assim, mas não sei dizer não. Acho até que se o cara da frente viesse me vender minha ferramenta, eu comprava. Só para não ter confusão. O que será que acontece comigo?

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Uma ideia sobre “A ferramenta

  1. Ticiana

    O Cabeça de Pedra tem um coração mole. Defeito para uns, virtude para outros. Eu também não sei dizer não e prefiro me esconder a arranjar confusão. Somos o(s) mesmo(s). Apenas crescemos e nos tornamos almas mais vulneráveis e precisamos armar nossas defesas. Cada um, cada um, como diz meu pai.

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