Fui, mas ninguém tem nada com isso. Nasci com o dom – e descobri isso no primeiro contato com ela. Fiz sucesso em todos os lugares onde atuei. Ela ajuda a quem tem alma que sabe conversar, acariciar, entender, fazer mágica. Dinheiro nunca me interessou, porque nunca tive mesmo. Nasci pobre. O que ganhava, gastava. Em farras. Todas que muita gente nem imagina. Era bom. Depois ficou ruim. Porque o maldito corpo cobra. E ela começa a olhar você com desconfiança. Começa a escapar, a correr mais que a gente. Ouvi histórias de outros que passaram por isso, mas era como o comando nos treinos: entrava por um ouvido e saía pelo outro. Eu e ela nos abandonamos definitivamente num lugar que nem lembro mais. Time pequeno. Fui de seleção e acabei apenas com a fama, a lenda passada de boca em boca por quem me viu jogar nos tempos em que ela me obedecia e eu a reverenciava. A bola agora é lembrança. Eu sou lembrança. Mas foi muito bom enquanto durou.