10:05Aécio quer virar a mesa no tapetão

por Marco Augusto Gonçalves

Não é tarefa simples, mas o PSDB está fazendo tudo para superar o PT em mediocridade política. Não se sabe dos tucanos emplumados qual tem sido mais infeliz e calhorda em suas manifestações. Bem, na verdade sabe-se: Aécio Neves. Definitivamente, o fracasso eleitoral subiu-lhe à cabeça.

Dolorido e inconformado com a derrota, comporta-se como o garoto mimado que pega o carro importado e sai em disparada desrespeitando sinais, como prova de sua superioridade.

Sim, a campanha de Dilma foi um estelionato e ela mesma –uma invenção de Lula– não reúne as qualidades desejáveis para o exercício do cargo. Mas o detalhe é que foi eleita. E o fato de que tenha perdido popularidade não basta para legitimar um movimento por sua remoção do poder.

Fernando Henrique Cardoso também aplicou um estelionato eleitoral e chegou a patamares baixíssimos de aprovação. De maneira análoga foi alvo de uma campanha –no caso liderada pelo petismo– para ser retirado da Presidência.

O PT ao pedir o impeachment de FHC estava sendo de alguma forma golpista? Sim, de alguma forma. O “Fora FHC” era uma palavra de ordem que atropelava mediações e pregava a derrubada do governante. Nada de extraordinário, quando se pensa na vocação autoritária –e também golpista– da esquerda. A mudança do poder pela insurreição armada ainda é um velho mito revolucionário que sobrevive no imaginário de dirigentes e militantes.

Mas sem dúvida em nossa América Latina a tradição golpista da direita é mais bem-sucedida, uma vez que injunções históricas conhecidas levaram-na a contar costumeiramente com o apoio das Forças Armadas. Mas temos também os levantes mais pragmáticos –aqueles que visam sobretudo as vantagens econômicas que a ocupação do Estado pode propiciar.

Seja como for, subsiste um substrato golpista na política brasileira, embora sublimado pela implantação da democracia, que tem se revelado duradoura e bem-sucedida, deixando para trás a crônica de quarteladas e reviravoltas característica de Repúblicas de bananas. Não se vislumbra hoje a possibilidade de uma intervenção militar que quebre a ordem democrática –e um improvável governo com esse perfil não duraria cinco minutos diante das reações internas e das pressões internacionais.

O PSDB, que tem dado mostras de desorientação, com períodos de euforia e alguns brevíssimos interregnos de sensatez, chegou à sua convenção no fim de semana animado com denúncias que poderiam proporcionar um caminho juridicamente defensável para depor a presidente. Depois de votar de maneira irresponsável contra seu próprio programa e os interesses do país, de ter defendido o impeachment e voltado atrás, os tucanos resolveram se preparar para “em breve” ser situação.

A cena que vem à mente é a dos bastidores do mundo esportivo. A política nacional, nesse Fla x Flu, desce ao “modus operandi” da cartolagem. A isso, chegamos: voltamos a ser o país do futebol, não pelo que jogamos mas pelo padrão Fifa de nossos homens públicos e de suas articulações.

Nessa arena, o PSDB deixou claro que sua jogada é ganhar no tapetão. Ao menos foi o que disseram seus luminares na convenção, alguns com mais outros com menos brilho. O time tucano quer uma virada de mesa e, para isso, vai usar contra a presidente alguns dispositivos do regulamento que todos, inclusive seus filiados, descumprem regularmente à luz do dia.

Para reforçar suas posições, este que um dia pretendeu ser um partido social-democrata, estabelece negociações com Eduardo Cunha, essa espécie de Eurico Miranda nos dias de glória, sobre quem já se conhece o suficiente, embora ainda não tudo.

Mesmo que a ideia possa ser mais pressionar do que realmente antecipar o final do mandato de Dilma, o PSDB envereda por um caminho perigoso. Uma investida persistente na tentativa de afastar a petista poderia ter consequências graves, e ainda não bem avaliadas, para o país.

Não seria em hipótese nenhuma um processo pacífico. A mobilização da militância e das entidades que defenderiam a presidente e das forças que apoiariam a virada de mesa no tapetão poderia nos levar ao ápice de uma escalada de radicalização e intolerância que precisaria na verdade ser contida, moderada e não excitada.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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8 ideias sobre “Aécio quer virar a mesa no tapetão

  1. moizes braz

    O articulista, deveria saber que oposição, é sempre oposição.
    ou ele quer que o PSDB, começe a elogiar o atual governo e defende-lo?
    Então não seria oposição.

  2. leitor

    oposição é oposição, mas dentro dos limites e das regras. o jogo ganha-se ou perde-se dentro de campo (ou, nesse caso, nas urnas). se o pt foi golpista ao bradar “fora fhc”, os tucanos, que de hábito se julgam superiores à arraia miúda, poderiam mostrar dignidade e fazer diferente. pelo bem da nossa ainda tão jovem (e, como vemos, bem frágil) democracia.

  3. TOLEDO

    ZB .talvez fosse bom para o País uma tentativa de golpe por parte do PSDB e com isso o Povo saindo as ruas para quebrar o que der e o que puder. Quem sabe assim os emplumadinhos que perderam no voto, enfiassem a viola no saco. E daí, vão todos reclamar para o Moro. Porra já deu, o País precisa seguir a vida. O Saco já encheu.

  4. Sergio Silvestre

    O que os riquinhos não sabem é que se vier uma distensão acompanhada de uma revolução eu adoraria.
    Fico imaginando navios cheios de políticos e magistrados com um peso nos pés sendo jogados ao mar e os pobres invadindo condomínios fechados para repartir os quartos de 30 m2 com banheiras para seu bruguelos.
    O Brasil livre dos direitos adquiridos,é aqueles direitos surrupiados por pistolão politico dessa camarilha da NEW REPUBLIC.
    Que delicia seria ver todos esses auditores LADRÕES puxando a carro para o Paraguai sem poder levar nada para não ter um julgamento na base do rito sumario e jogar eles para a população que não teve chance de ter remédios e bem estar por causa deles.
    Viva la revolucion,em 2015 ,legal,vamos voltar ao passado dos golpes,mesmo que naufraguem o Pais,né cambada de calhordas.
    Estão brincando com fogo,não se contentam com o razoável,querem meter a mão também ao invés de tentar por vias que estão em curso diminuir esses desmandos.
    Experimentem,não custa tentar,vamos jogar numa vala todas nossas conquistas nestas duas décadas de democracia plena,mas vamos dar o golpe,ai vamos ver quem tem mesmo garrafas vazias.

  5. jota

    Ôba ! Boa ideia, me candidato a ocupar o tríplex do edifício Solaris lá no Guarujá. Se a Odebrecht deixar.

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