7:29Renascendo das cinzas

por Ivan Schmidt

 

Teremos ainda carnaval, páscoa e Copa do Mundo, mesmo ante os rumores de que a Fifa tem uma alternativa para realocar os jogos programados para Curitiba, caso as obras na Baixada não sejam concluídas a tempo. Só depois disso tudo é que vamos entrar em definitivo no clima das eleições, embora seja notória a movimentação dos pré-candidatos ao governo do estado em entrevistas, discursos e viagens pelo interior. Além da troca de farpas, quesito em que o senador Roberto Requião é especialista.

Aliás, para falar em Requião, é bom lembrar que as circunstâncias contribuíram grandemente para o renascimento de uma candidatura que a maioria julgava impossível (ganhar a eleição são outros quinhentos), tendo em vista o divisionismo encarnado atualmente no PMDB.

Quando digo dessa forma é porque me reporto às correntes internas do partido propugnando candidatura própria, apoio à candidatura de Gleisi Hoffmann e, correndo por fora, o grupo que pretende marchar ao lado do governador Beto Richa na campanha pela reeleição.

Como se percebe, uma tríade de opções que acirra a divergência dos pretensos comandantes do partido, a saber, o ex-governador Orlando Pessuti e seu escudeiro Osmar Serraglio (presidente do diretório regional), o senador Roberto Requião e, convenhamos, o secretário estadual do Trabalho, deputado licenciado Luiz Cláudio Romanelli, que arvora a veleidade da bancada na Assembleia de atrelar o partido à candidatura de Richa. Na verdade, pela simples razão de que sem as benesses da ligação umbilical com o governo a bancada sofrerá um abalo jamais visto desde a histórica eleição de 1982.

Hoje, a possibilidade de engajamento na candidatura de Richa tem certa aura de justificativa, pois a cúpula nacional peemedebista por meio do deputado Eduardo Cunha (RJ), líder na Câmara dos Deputados, manifestou a insatisfação com o tratamento recebido do Planalto e a intenção de não indicar substitutos para os ministérios já ocupados, segundo parâmetros da reforma anunciada pela presidente Dilma Rousseff. O líder da bancada federal teria dito (foi o que os jornais publicaram) que a decisão atenderia interesses regionais do partido, deixando-o em liberdade para buscar as alianças mais convenientes em termos eleitorais.

O tema é polêmico, especialmente quando discutido a partir do que estabelece a legislação sobre a formação de coligações, que necessariamente devem ser reproduzidas nas eleições estaduais. Portanto, se o PDMB figurar no arco partidário de apoio à candidatura de Dilma Rousseff, as únicas hipóteses aplicáveis no plano estadual seriam a candidatura própria ou o apoio à candidata do PT, Gleisi Hoffmann, que à semelhança dos outros dois postulantes já está em pré-campanha. Restaria então ao PMDB resolver a difícil questão de indicar candidato ao Iguaçu (Pessuti ou Requião?), ou integrar a chapa petista com a virtual indicação do deputado Osmar Serraglio para a vice-governadoria.

A realidade que teima em rondar a formulação teórica em torno da sucessão estadual é o não pequeno handicap do senador Roberto Requião, o único paranaense a ser três vezes eleito democraticamente para governar o estado. Estimar a ascensão e queda de seu potencial eleitoral ao longo dos mandatos que exerceu desde a estréia como deputado estadual no distante 1982 – na trilha vitoriosa da campanha de José Richa – é também questão delicada.

E outra coisa. É sabido que Requião renasce a cada momento em que sua combatividade é posta em xeque. Arguto como sempre foi, dia desses ejetou um petardo de sua bazuca preferida, o Twitter, afirmando que sem a candidatura do PMDB o governador Beto Richa ganhará a eleição no primeiro turno. Raciocínio que suscitou resposta imediata da liderança petista, obviamente com a troca do nome do ganhador do embate eleitoral de outubro.

Para os exegetas de plantão, é possível imaginar que Requião esteja reservando algumas cartas preciosas para um acalentado segundo turno, quando o candidato habilitado a disputar com o primeiro colocado, seja do PT ou do PMDB, passaria a contar com o apoio decisivo do outro lado. Nesse momento as pesquisas insistem em mostrar que Beto será o vencedor, embora não haja elementos suficientes para carimbar a vitória no primeiro turno.

Os partidos têm prazo até o final do mês de junho para definir suas propostas eleitorais. Ou seja, se encaram os desafios sozinhos ou acompanhados e, na maioria dos casos, como figurantes mais ou menos prestigiados nas coligações puxadas pelos partidos hegemônicos.

Em nível nacional, o mais provável é que as coisas continuem como estão, com a fileira interminável de coadjuvantes da coligação dilmista. O PSDB, por seu lado, terá de se contentar possivelmente com o Democratas e alguma outra legenda menor, enquanto o PSB de Eduardo Campos contará com o reforço do PPS e da Rede de Marina Silva. Nos estados poderá ocorrer alguma diferença aqui e ali, mas basicamente o desenho será o mesmo.

O principal obstáculo do PMDB paranaense é a dificuldade de estabelecer a sintonia entre seus líderes. Estranhamente não se fala a mesma linguagem e isto poderá apressar as exéquias de um partido, que nos últimos 30 anos exerceu o governo por cinco mandatos.

O grande filósofo francês Michel de Montaigne, um dos fundadores do pensamento ocidental, já dizia nos idos de 1560, que em certas ocasiões para a defesa do bem público, era necessário passar por cima, trair e mesmo eliminar os adversários. Seria essa a disposição interna do partido que há três décadas dava lições memoráveis de civismo e democracia?

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