de José Maria Correia
Tinha tantas coisas a dizer.
Tinha tantos sentimentos a expressar
Que nunca expressei.
Certezas nunca tive muitas,
Nem tantas.
Temores sim, sempre me abrasaram
Silenciei.
Não deveria.
Perdas inventariadas.
Sem rumo fui ter junto ao mar
Ventos sopravam fortes.
Meus braços abertos eram como mastros
Crucificadas velas enfunavam
Inúteis tentativas de fuga.
Areias em vendaval minhas pernas
duramente açoitavam.
E meus pés afundavam como
âncoras cravadas no redemoinho.
Frágil equilíbrio mantido
O rosto crispado era a proa
Carranca voltada ao Oriente
O peito despido a quilha
Coberto de sal e de angústia
Não havia Norte magnético
O coral mitológico das sereias
crepuscular me encantava.
Perdi a estrela Polar
Sem horizonte naufraguei
Tombado deitei, submergi
Junto a areia e a mim
quebravam as ondas
azuis,noturnas,
agitadas,sem fim
Inerte como um molusco
Silente Permaneci
Um soterrado escombro
alvas espumas rendilhadas
e descarnado esqueleto
dos pássaros assombro
Rosa dos Ventos,
Mistral ou Leste,
No mar indiferente
buscado,esquecido.
De temores já liberto
Enfim, inexpressado,
De amores distraído,
Ossário sem veste.
Branco relicário,
Coberto de conchas
Eterno adormeci
Para sempre…