15:57São Paulo

de Zeca Corrêa Leite

Calaste-me com um beijo
quando o grito que eu trazia
ia ferir a madrugada.
Mostraste-me
um anúncio em néon
e o céu sem estrelas
da cidade adormecida.
Trincou minhas feridas
apontando para a solidão
dos prédios.
Assim era São Paulo,
disse-me com receio
de meu susto e medo.
Beijou-me os lábios
quando o segundo grito
desprendeu-se da alma
e não encontrou vazão
em sua boca
de promessas sem paixão.
No terceiro grito
o próprio grito se amansou
e entendeu a dor.

O néon brilhava
sob o céu sem estrelas;
São Paulo dormia
e seguimos
em nossos passos
silenciosos,
devorando-nos.
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2 ideias sobre “São Paulo

  1. Nilson Monteiro

    Belo poema, Zés – Correia e Beto. Grato, o primeiro por ter escrito. E o segundo, por ter publicado.

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