de Nelson Padrella
Ganhou do chefe uma garrafa de uísque escocês 20 anos. Presente de aniversário. Não era de beber, principalmente bebidas de alto preço. Um vinhozinho, às vezes. Guardou a garrafa para presentear outra pessoa que apreciasse melhor aquele mimo.
Meses depois, o chefe aniversariava. Não sabia o que lhe dar e, por esquecimento, acabou brindando-o com a mesma garrafa.
O chefe tomou aquilo como um chiste. Apreciou o humor do subalterno. E quando de novo o empregado aniversariava deu-lhe, outra vez, a mesma garrafa.
Aí, o sujeito tomou tento. Viu que tinha dado mancada. E para mostrar jogo de cintura, devolveu a mesma garrafa ao chefe, no dia do aniversário. Mas envolta em papel diferente.
Era como uma espécie de jogo entre eles. Não precisavam, nem um e nem outro, preocupar-se em catar presente nas lojas. Era só rolar a garrafa, como uma taça Jules Rimet passada de mão em mão.
Certa vez, na véspera do aniversário do chefe, o empregado convidou-o para almoçar em sua casa. Enquanto se ajeitavam na sala, pediu à patroa que trouxesse o presente do chefe. A patroa a trouxe a garrafa. Aberta. Dois copos na mão. O sujeito não acreditou:
– Mas o que passa pela tua cabeça, Joana?