por Zé da Silva
Capricórnio
A foto estava lá há anos. No local de trabalho. Ao lado do computador. Quando viajava, levava junto. Ou na moldura ou dentro de um dos livros que sempre carregava. A imagem mostrava três homens. Um era ele. Numa cama, o mais velho, no meio, tinha ao lado o outro filho. Todos sorriam. O pai tinha o rosto da missão cumprida. Um lençol estampado cobria-lhe as pernas, debilitada pela doença. Ele olhava sempre os três rostos, via também a cabeceira da cama de solteiro que um dia lhe pertenceu, uma parte da cortina da janela que dava para o quintal, o muro e a rua de pouco movimento. Mais nada. Olhava a imagem e ela lhe transmitia uma força que não sabia explicar. O líder de tudo já tinha ido embora faz tempo. Mas naquele domingo de manhã o coração dele, o filho mais velho, disparou. Porque notou uma coisa que jamais tinha visto, apesar de ter olhado bilhões de vezes aquela imagem. Era o braço mais esticado dele, seu pai, que segurava uma das pernas. Enquanto o outro repousava sobre a barriga, aquele braço, o esquerdo, terminava com a mão onde o dedão se destacava, apontado para o alto, no sinal clássico do positivo. Havia também a aliança com brilho de ouro. Mas o positivo entrou então na sua alma como uma mensagem iluminada. De aprovação por tudo. De força para segurar tudo. Uma mensagem para sempre de quem quase nunca falava.