17:08HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Touro

Havia algo dentro dele que, imaginava, talvez nunca decifraria. Não sabia se medo, covardia, passividade para provocações. Às vezes se sentia tão forte que temia o descontrole, mas essa parte era soterrada ao lembrar de situações inesperadas que o paralisavam. Foi assim naquela vez no caminho para a escola quando um companheiro, não sabe por quê, começou a xingá-lo de tudo quanto é nome sem ele lembrar ter feito nada de mal para o fulano. Mais tarde, já na faculdade, aconteceu a mesma coisa, com outro companheiro de sala, que de uma hora para outro passou a lhe desferir impropérios na sua orelha e até hoje ele não sabe o motivo. Engoliu tudo, sem argumentar, e depois o mistério aumentou porque os dois desafetos daqueles momentos recortados no tempo e relembrados sempre pela alma, voltaram ao normal como se nada tivesse acontecido. Seria um teste da vida? Ou teriam de lhe encostar o dedo para que o instinto assassino explodisse numa onda de violência? Nunca soube. Um dia revelou isso a um amigo. Ele disse que passara por isso e que superou no dia em que, com uma cabeçada, afundou o nariz de um que lhe ficou lhe cutucando a paciência porque achava ser maior e mais forte. A teoria: o represamento do desconforto precisa do primeiro ato, que pode até ser um tapa na cara e uma cusparada. Depois, seja o que o Diabo quiser. Ele agora espera uma oportunidade. E treina mentalmente cutuvelada para quebrar o maxilar, partir a língua do falastrão anônimo e nunca mais lembrar dos fantasmas.

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