de Nilson Monteiro
Era. É uma polaca apimentada. Pastoreia ovelhas e carneiros estendidos sobre seu vestido encarnado e preto, que esparrama sobre as calçadas, deixando naco de pernas à mostra, ou gramados estonteantes.
Dóminus vobiscum! Com a prata da cruz, afugentou demônios e atentados doidos para morder sua carne ou espetar seu coração. Nunca lhes mostrou os dentes em sorriso qualquer.
Coronárias plenas, amou um negro e recebeu o hálito gelado dos tigres de plantão e seus caninos cariados. Do zoológico inteiro. Amou pleno. Fez com ele filhos. Carnes alva e negra. Amou. Passou. Amou outros. Quase descarnar sóis em céus noturnos. Estrelas desenvergonhadas.
Na praça, de olhar parado, ao olhar chumaços de polaquinhas em gritos estridentes de andorinhas se viu menina a cantar, com o barro preto entre os dedos dos pés na cidade enfiada na história e no passado.
Olhar embebido nas gentes, em suas dores e ardores, adornou o labor e os dias com integridade irritante. Nenhum desvio, nenhuma derrapada em suas curvas magras, nenhum amém. Aprendeu cânticos e orações, uma imensidão de mulher submersa, relâmpagos em meio aos peitos mansos. Lateja. Provoca relampejares. Cobiças.
É uma polaca apimentada. Caminha sobre fragmentos de perigos como se pisasse nuvens, a desafiar olhares e desejos; não os teme, a andar sobre paralelepípedos ou asfalto, gosmento ou esfarelado, de ruas indecentes.
Ergue as barras do vestido encarnado e preto para ficar limpo do esgoto que corre impune em meio a prédios e insones. Se curva aos braços da Virgem Negra de Czestochowa. Pede bênção e se perde em sentimentos.
Te amo, polaca.
Pois é,falta uns 300 degraus para chegar ao Dalton Trevisan,mas pode usar seu traço incomparável para escrever