por Dirceu Pio
Entre amigos, costumo dizer que trocar Willian Waack por Renata Lo Prete é como trocar uma Ferrari vermelha por uma Brasília amarela…o assunto está morto e não vem ao caso, serve-me apenas para demonstrar que o episódio do afastamento do âncora foi também uma demonstração da suprema hipocrisia que infesta a emissora-líder…
Willian Waack foi demitido por usar, fora do ar, gravado que foi nos bastidores, uma expressão dita racista, como se a emissora fosse um território sacrossanto e abençoado por Deus! não, não é!
Volta e meia ela espanta seus milhões de espectadores com a revelação de práticas nada corretas e que fazem do caso WW apenas uma grande injustiça. Não faz muito tempo, o ator global Zé de Abreu aplicou cusparadas no rosto de frequentadores de um restaurante em São Paulo, mas ao invés de ser advertido – ou demitido – ganhou um enorme espaço no programa dominical do Fausto Silva para falar de suas desavenças públicas por ser militante fanático do PT (quem está em rede na internet sabe que o ator é de aprontar muitos outros barbarismos em público!).
BOLSONARO, O INTRÉPIDO
Foi tudo muito rápido, mas certamente não passou desabercebido aos telespectadores outra grande hipocrisia global, esta revelada pelo candidato Jair Messias Bolsonaro na entrevista concedida a William Bonner e Renata Vasconcellos na terça-feira, 28-08, no Jornal Nacional.
Tangido a explicar seus vencimentos no Parlamento, que incluem auxílio moradia, Bolsonaro fuzilou com sua esperteza desafiadora e arrogante: “E o PJ que vocês recebem, é legal por acaso?”
Para quem não sabe, PJ é a sigla de Pessoa Jurídica, um expediente ilegal que as empresas de modo geral utilizam pra driblar a CLT e escapar do custo exacerbado da folha de pagamento. Para reduzir o custo dos empregados, as empresas pagam grande parte do salário por Nota Fiscal.
Eu mesmo já fui vítima do PJ. Trabalhei um ano para a TV Cultura, um empreendimento do governo estadual de São Paulo, recebendo por nota fiscal.
Fui registrado em carteira durante todo o período (seis anos) em que trabalhei na Gazeta Mercantil, mas quando o deletério Nelson Tanure (amigo do Zé Dirceu) assumiu a empresa, todos os funcionários foram obrigados a pedir demissão como condição para continuar a receber salários.
Em sua primeira aparição frente aos funcionários da Gazeta Mercantil, perguntado quais seriam seus planos para a empresa, Nelson Tanure foi claro:
– Ainda não sei dizer o que vou fazer…posso dizer apenas o que eu NÂO vou fazer…Eu não trabalho com CLT, todos os pagamentos serão por nota fiscal…
SOBE UMA PONTA DA CORTINA
Um tanto insólito, o gesto do candidato Jair Messias Bolsonaro levantou a cortina que sempre encobriu um desses escândalos que afetam as leis e a Justiça Trabalhista: o Brasil é o País com os encargos trabalhistas mais elevados em um grupo de 25 nações analisadas pela rede mundial de auditoria e contabilidade UHY, mas quando se fala em reformar a legislação, as centrais sindicais são as primeiras a reagir com virulência.
Mesmo quando a mídia impressa era forte e destemida, nunca se voltou contra a perniciosa oneração do emprego formal. Jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão nunca clamaram por reforma, por modernização da legislação trabalhista.
Agora, tornaram-se públicas as razões….Bolsonaro levantou uma ponta da cortina…Quem vai escancará-la?
Pio, parabéns pela excelente análise sobre a hipocrisia televisiva.
Obrigado, Jamurjr…abraço