15:24A frase de Casagrande e o desconhecimento generalizado sobre a doença incurável

Casagrande falou para os milhões de telespectadores da Globo que assistiram a final da Copa do Mundo:  “Eu saí do Brasil com um objetivo e cumpri. Que era ir e ficar sóbrio durante toda a Copa. E eu consegui”. Ganhou espaço, como a longa matéria publicada na Gazetona, etc. Como faço parte do time e estou bem só por hoje, prefiro mais o que Paulo Cesar Caju fala, mesmo porque ele era muito mais bola em campo –  e chegou no fundo do poço dele ao vender até a medalha de tricampeão mundial conquistada naquele time inesquecível – isso para comprar cocaína. Está em recuperação há um bom tempo, e sabe que, não desprezando todo o aspecto científico que ganhou importância no texto do jornal da família curitibana, a coisa é mais complexa e tem muito a ver com a alma, ou melhor, com os buracos que existem nela. É por aí que se tenta fazer o dependente retomar o controle da própria vida – e algumas vezes com ajuda de remédios. Como? Alguém aí sabe informar o que acontece numa clínica de tratamento para quem tem essa doença incurável? Por que será que o fundamental ali, para se dar o primeiro passo da caminhada, que começa de verdade fora dos muros do local, são as terapias comandadas por psiquiatras ou psicólogos especializados? Promessa de que vou a um campeonato de bolinha de gude, um churrasco, um show de rock, um forró, e vou fazer tudo para não beber, fumar um, cheirar uma carreira ou injetar uma dose de cocaína é algo que, para quem trilha o caminho da sobriedade, soa meio estranho e com aura de perigo – porque o que aprendemos é que o fundamental, o simples, absurdo e maravilhoso a nos manter com saúde e que “só por hoje” não vou pisar na jaca mole. Por que? É a prioridade da vida. Como o que se passou “já Elvis” e eu não sei o que vai acontecer amanhã… Aprendemos a pedir ajuda “se o calo apertar”, encontrar as ferramentas que nos fazem seguir (terapia, voluntariado, remédios, se for o caso – e cada um acha o seu jeito próprio de se manter sóbrio). Identificar onde mora o perigo, quando acende a luz vermelha, e as situações que não conseguimos controlar… isso é fundamental para evitar a recaída. Casagrande já deu entrevista separando o consumo da cocaína e da heroína, da ingestão de álcool. Para quem tem um pouco de conhecimento da doença, isso é a mesma coisa que um dependente dizer que não se consegue lavar um carro no final de semana sem tomar um balde de caipirinha. Talvez a intenção do comentarista tenha sido a melhor possível, mas é preciso ter muito cuidado ao se falar a respeito do assunto, ainda mais disponde de um canhão de propagação das palavras à disposição, como no caso da Rede Globo. O jornalista Ruy Castro, por exemplo, sabe falar e, obviamente, escrever muito bem a respeito, ele que quase foi para o vinagre por causa do alcoolismo há quase 30 anos. De qualquer forma, o debate sobre esta doença que carece de informação é sempre bem vido. Importante é que o ex-centroavante esteja bem. Só por hoje.

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