19:27ZÉ DA SILVA

Tinha um menino ao lado do meu pai e minha mãe na foto do casamento deles. Olhei aquilo e foi uma facada no coração. Ele não era eu. E cadê esse moleque? Morreu? Sumiu? Então eu não sou filho deles. Pegaram onde para substituir? A foto foi escaneada e está aqui no meu computador para lembrar quando comecei a ser sozinho no mundo. Achava que isso só tinha acontecido comigo – o pensamento. Mas há algum tempo ouvi de um filho a mesma coisa. Depois de outro. E aí tudo se transformou numa canção entoada pelos pequenos cantores da minha imensa prole. Como fiquei feliz! Porque a descoberta de se estar sozinho no mundo, sem pai nem mãe, mesmo tendo, é o sinal da sensibilidade e o antídoto para aguentar as dores da alma. Foi assim. É assim. Ainda bem!

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