5:49Os tropeços do pequeno Richa e a camarilha comprometedora

por Célio Heitor Guimarães

Segundo o articulista João Frey, da Gazeta do Povo, “o ex-governador Beto Richa saiu tropeçando do Palácio Iguaçu”. Frey referia-se ao estranho projeto de lei enviado por Beto à Assembleia Legislativa no apagar das luzes do seu (des)governo, alterando dispositivo da reforma no sistema de previdência dos servidores e que desencadeara as manifestações do funcionalismo, reprimidas pela PM do sr. governador nos idos de 2015.

Faço-lhe apenas um reparo, prezado Frey, se me permite a intromissão: Richinha não saiu tropeçando; todo o mandato dele foi um bruto tropeção. E ele – justiça lhe seja feita – sempre esteve muito mal acompanhado. Falei disso aqui no mês passado (“Um governo sem obra, sem lustro e sem verdade”).

O primeiro tropico visível foi com Ezequias Moreira Rodrigues. Lembram do Ezequias, que contratou a sogra como funcionária fantasma do gabinete do então deputado estadual Beto Richa? Ele acaba de ser condenado a seis anos e oito meses de prisão em regime semiaberto. Quando no Palácio Iguaçu, o governador entregou a Ezequias as Relações com Investidores da Sanepar. Denunciado pelo MP por peculato e improbidade administrativa, foi nomeado Secretário Especial de Cerimonial e Relações Internacionais do Paraná. E o piedoso Carlos Alberto I lançou a teologia do perdão, segundo a qual deve-se condenar o pecado, mas absolver o pecador…

Desse entendimento resultou uma sequência de topadas: as operações “Voldemort”, protagonizada pelo primo não tão distante de s. exª., o notório Luiz Abi Antoun; “Publicano”, destacando o chefe da Receita Estadual de Londrina e co-piloto de corridas do pequeno Beto, Márcio Albuquerque Lima; e “Quadro Negro”, envolvendo Maurício Fanini, companheiro de viagens internacionais do marido de dona Fernanda. Mais recentemente, a Polícia Federal desencadeou a “Operação Integração”, braço paranaense da “Operador Lava-Jato”, colocando no xadrez Nelson Leal Jr., Diretor-Geral do DER/PR e aliado do governador desde quando ele era o prefeito da Capital, e fustigando o assessor Carlos Nasser, que despachava na antessala de s. exª.

Mas teve mais: no início deste abril, o Gaeco e os promotores de Justiça de Araucária, nas imediações de Curitiba, detonaram a “Operação Sinecuras”, complemento da “Operação Fim de Feira”, com 21 mandados de prisão e 22 mandados de busca e apreensão. Quem estava entre os detidos? Edson Luiz Casagrande, ex-secretário estadual de Assuntos Estratégicos de Betinho. O motivo é oferecido pelo juiz Sérgio Bernardinetti: Casagrande teria repassado R$ 700 mil ao ex-prefeito Olizandro José Ferreira, com o propósito de assumir o setor de informática da Prefeitura de Araucária.

Ou seja: tudo gente da melhor espécie, frequentadora da cozinha do senhor governador, cujo mandado acabou com muito mais do que um simples tropeço.

Na véspera, 40 entidades pediram a intervenção federal nos órgãos ambientais do governo estadual em razão de inúmeras irregularidades cometidas contra o patrimônio natural paranaense. Enquanto isso, o pequeno Richa depois de inaugurar o inacabado hospital regional de Telêmaco Borba, mimoseou a magistratura paranaense – afinal, ele pode ser tudo, mas tolo não é – sancionando a lei que criou gratificação por exercício cumulativo de atribuições judiciais – a mais recente excrescência idealizada pelo homens da toga, que ninguém tem coragem de enfrentar, muito menos o frágil menino que ocupou o Palácio Iguaçu nos últimos anos.

No entanto, antes de ir para casa e dedicar-se à distante quimera de chegar ao Senado Federal, Richinha – revela-nos a Ruth Bolognese – envolveu-se num bate-boca com um delegado do segundo escalão, lotado em Laranjeiras do Sul, que o chamou de “mentiroso” e recebeu o apoio da Associação dos Delegados da Polícia Civil do Paraná. Algo parecido já acontecera em Campo Mourão, onde uma servidora do Estado cobrou de s. exª. o dinheiro surrupiado do fundo previdenciário.

E com isso voltamos ao último tropeço, isto é, ao primeiro parágrafo. Alexandre Ribeiro, do site livre.jor.br, transcrito pelo Celso Nascimento, dá mais detalhes sobre a interposição de ação judicial pelo Estado do Paraná, ainda durante o reinado do “garboso” e “rutilante” Charles Albert Richard – assim cognominado, com rigorosa precisão pelo perspicaz G. Must: o Richa menor quer impedir que a ParanaPrevidência cobre a contrapartida do governo nas aposentadorias de inativos e pensionistas, o que gerará um prejuízo além de R$ 20 bilhões e tornará o sistema previdenciário inviável em vinte anos. Essa contrapartida já deixou de ser repassada desde abril de 2015, quando o governo aprovou a mudança do fundo de previdência do Estado.

Em resumo: além de haver se apropriado de boa parte do fundo, o então supremo mandatário estadual – cuja obra é apenas virtual e só existe nas mentirosas propagandas exibidas na TV e nos jornais do Interior – quer que o Judiciário convalide o saque e o calote. E aí o deferimento daquela gratificação ao pessoal da capa preta ganha maior significado.

E depois os canalhas ainda alardeiam que a previdência pública está quebrada em razão dos velhinhos aposentados e das velhinhas pensionistas. Que o inferno os consuma!

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5 ideias sobre “Os tropeços do pequeno Richa e a camarilha comprometedora

  1. Carlos D Coimbra

    Dr Célio, antes de se consumar no local preferido do capiroto, Beto deve pagar caro aqui mesmo. A melhor arma é o voto – e pedirmos voto contra, expondo suas mazelas.
    Desde sempre, as pessoas próximas dele sempre diziam que “ele tem estrela , na extrema dificuldade acontece algo que muda sua sorte”. Está na hora da impunidade se encontrar com muitas pedras de tropeços. E não se elegendo , encerra a carreira.

  2. Fausto Thomaz

    Precisamos fazer uma campanha para que as deslumbradas de Curitiba, que votam no playboy bronzeado, parem de pensar com a perseguida e votem nulo ou em alguém decente….por favor.

  3. eleitor atento

    Vale repetir o que acima está escrito …

    “Em resumo: além de haver se apropriado de boa parte do fundo, o então supremo mandatário estadual – cuja obra é apenas virtual e só existe nas mentirosas propagandas exibidas na TV e nos jornais do Interior – quer que o Judiciário convalide o saque e o calote. E aí o deferimento daquela gratificação ao pessoal da capa preta ganha maior significado.

    E depois os canalhas ainda alardeiam que a previdência pública está quebrada em razão dos velhinhos aposentados e das velhinhas pensionistas. Que o inferno os consuma!”

  4. Estatística

    O Piá de Prédio sempre disse que queria ser governador como o pai. Em nenhum momento disse que iria governar como o pai.

    Na real, o governador de fato, no segundo mandato, foi o Mauro Ricardo.

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