por Célio Heitor Guimarães
Como o leitor que acompanha minhas eventuais incursões pelo mundo dos quadrinhos, há de lembrar, já registrei aqui que André Diniz é uma das mais gratas revelações da arte quadrinizada brasileira nos últimos vinte e cinco anos. Jovem de talento inegável, arte personalizada e criatividade ímpar, o carioca André fez nome no Brasil e está conquistando o mundo. É um destemido lutador, que confia no seu taco e não tem receio de enfrentar as dificuldades do ramo.
Diniz é produto dos fanzines. Em 1994, sozinho, escrevia e desenhava em folhas de papel A4 e distribuía as suas histórias nas lojas de quadrinhos. Em 2000, criou a Editora Nona Arte, com o propósito de autopublicar os seus trabalhos e oferecer uma oportunidade aos novos artistas. E assim ofereceu ao público, na forma impressa, “Fawcett”, “Subversivos”, “A Classe Média Agradece” e “31 de Fevereiro”. De 2000 a 2005, conquistou 15 prêmios, entre eles o Troféu HQ Mix de melhor editora de quadrinhos, três vezes de melhor roteirista e tetracampeão como o melhor site de quadrinhos. Em 2010, ganhou o HQ Mix de melhor roteirista pelos seus trabalhos de 2009, “7 Vidas” e “Ato 5”.
Depois, brindou-nos “O Quilombo Orum Aiê” (Galera Record, 2009), que narra a busca do paraíso pelo moleque Vinícius “Capivara” e pela escrava Sinhana, “um lugar maravilhoso, onde não há guerras, injustiças ou doenças”. A trama emociona; é bem armada, o enquadramento cinematográfico e a arte refinada.
Os trabalhos seguintes de André Diniz confirmam a preferência do autor pela cultura afro-brasileira e a opção pelo traço artístico africano: “A História do Homem mais Velho do Mundo” (Galera, 2008), “Chico Rei” (Franco Editora, 2009), “A Cachoeira de Paulo Afonso” (adaptado do poema de Castro Alves – Editora Pallas, 2011), “Morro da Favela” (Leya/Barba Negra, 2011), “O Negrinho do Pastoreio” (Ygarapé, 2012) e “Mwindo” (Galera, 2012).
Em todos eles é nítida a influência do saudoso Flávio Colin no traço de André.
Em 2016, ele resolveu romper as fronteiras do Brasil. Mudou-se com tintas e pincéis para Portugal. Não demorou muito para que um de seus mais aplaudidos trabalhos, “Morro de Favela”, fosse publicado também em Portugal, Inglaterra e França. Em seguida, a edição chegou à Polônia, através da editora chamada Wydawnictwo Mendioca, com o título de “Favela W Dadzre e uma novidade: um acréscimo de 12 páginas na história do fotógrafo Maurício Hora, morador do Morro da Providência, a partir do final da edição original.
No ano passado, André Diniz concluiu a adaptação do romance “O Idiota”, do escritor russo Fiódor Dostoiévski, publicado em 1869. Lançada em Portugal, a versão quadrinizada chega agora ao Brasil, pela Quadrinhos na Cia, selo editorial dedicado aos gibis da Companhia das Letras.
A previsão do lançamento de “O Idiota” nacional, em formato 16,2 x 23cm, 416 páginas, capa cartonada e preço de R$ 59,90, é para abril. O trabalho é em preto e branco, com um mínimo de palavras, e procura manter o máximo de fidelidade aos abismos interiores e os horrores metafísicos de Dostoiévski, mas ao estilo André Diniz.
Imperdível.