9:58BORA PENSAR

Rogério Distéfano

A morte do menino na escola ocupada, de quem é a culpa? O torvelinho das acusações segue a direção inversa da lógica: a maioria examina o efeito e tenta fazer nele caber uma causa. Causa, de causalidade, não causa, de reivindicação. Nesta hora surgem os engenheiros de obras prontas, donos da verdade e da explicação irrefutável. Culpados seriam, pela ordem e pelo gosto, como seguem, ordem cronológica.

Beto Richa, que não concede reajustes; Michel Temer, com a reforma do ensino; o Ministério Público, que abona as ocupações de escolas; a senadora boboca do mote boboca ‘Bora ocupar’.  Os professores, que usam os alunos como escudos para criar outra batalha do Centro Cívico.  Os pais, que deixaram os alunos fora de casa, sem aulas, aliados a professores que ocupam escolas. Seguem outros possíveis suspeitos.

Culpa do traficante que vendeu a droga que levou o menino a matar o melhor amigo? Pode ser, mas não como causa direta do incidente. Assim como a ocupação, não foi a causa do homicídio. Homicídios acontecem em escolas ocupadas com aulas ou ocupadas sem aulas. Consumo de drogas acontece nas escolas – e sexo, agressões, até cola nas provas.

Seria culpa do diretor da escola ocupada, ou do bedel, que não revistou os alunos? Ora, faça-me o favor, só puxo o absurdo para mostrar para onde estamos a derivar. Então vejamos as inculpações, caso a caso. O governador não é culpado, nem o presidente da república. Se negativa de reajuste levasse a homicídios, o Paraná estaria em guerra civil.

Se Michel Temer fosse culpado, melhor começar em Brasília, instalando a guilhotina na Praça dos Três Poderes. Ministério Público? Desconte-se o destino manifesto que a instituição se atribui de ser o deus ex machina, baixado pelos promotores para sanar todos os males do Brasil. Não há culpa do MP, que só foi além das chinelas.

Os professores não são culpados. Fazem a cabeça dos alunos contra o governo, não a favor de drogas ou homicídios. Ora, isso é a tal escola com partido, nada mais. Os pais tampouco são culpados. Alguns são solidários, outros querem os filhos fora de casa, de preferência na escola, seja aprendendo, seja desaprendendo.

Alguém ficou de fora? Ia esquecendo, estou em processo de esquecê-la, a senadora do ‘Bora ocupar’. Não tem culpa, está fora de si, transtornada pela queda ‘da presidenta’ e pela prisão do marido, histérica com os grampos da polícia. Suas culpas são outras e de outros: de quem a elegeu e da professora que, na primeira ocupação, ensinou-lhe o ‘bora’.

Afinal, de quem é a culpa? Culpada é a vida, causa de tragédias não necessariamente evitáveis ou previsíveis – ou “presumida”, como correu a explicar, culpando a ocupação, o secretário da Segurança. A hora é de prantear os meninos, o que morreu e o que matou. Não extrair proveito político daqui e dali, inventando um mártir.

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3 ideias sobre “BORA PENSAR

  1. Joao SIlva

    Só vejo um problema neste belo artigo, que infelizmente desmonta o que o grande Distéfano defende. Ele esquece de analisar a crueldade inata do homem, e ao tentar tirar o mártir, ou não deixar que picaretas de ambos os lados politizem o corpo do jovem, mostrando que o certo é lamentar pela tragédia da vida pela vitima e pelo seu algoz, ele acaba prestando um desserviço.

    Infelizmente os baderneiros atuais tomaram posse dos discursos, são os algozes e são vítimas, detém todos os bons princípios da sociedade e todos os belos ideais. Se as pessoas que discordam destes malucos, continuarem com medo, seja por covardia, ou simplesmente medo de ser tachado de algum termo como “reacionario, coxinha, homofobico, racista e blablabla”, mais pessoas continuaram morrendo, mais pessoas continuaram sendo prejudicadas, inclusive os próprios “batalhões de choque” que eles usam para manobra (ou alguém acha que estudantes de escola pública, com ensino do jeito que está vai daqui a alguns anos está em par de igualdade com aqueles que vem da escola privada?).

    Não, as pessoas não podem mais ficar em silêncio e deixar minorias tirânicas, comandadas por bandoleiros ferrando a população.

    O momento é surreal pois de um lado temos os bandoleiros do PT, temos corruptos, temos sindicatos, temos falsos estudantes, temos bandidos, e outros grupelhos…e de outro temos os iluminados do judiciário e da procuradoria, os arautos do novo amanhã, os salvadores e iluminados.

    Sinceramente…os dois lados são m…os dois lados desrespeitam leis, (mesmo os que supostamente estão fazendo o bem), os dois lados se colocam como salvadores… e nesta guerra, com jornalistas ora flertando com um lado, ora com outro 90% do Brasil está se fud….Pagamento impostos por serviços de m, convivendo com a violência diária, sem saber se amanha terá emprego, lutando para sobreviver…na outra ponta os bandidos roubando e deturpando a moral e os bons querendo nos iluminar, sem abrir mão de seus altos salários, suas mordomias, seus aumentos, seu corporativismo tosco e picareta.

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