7:36TEMER TREME

por Rogério Distéfano 

MICHEL TEMER VACILOU mais uma vez: recriou o ministério da Cultura, deixando seus apoiadores sem a escada e pendurados no pincel. Com isso sinalizou a melhor estratégia para o PT na luta contra seu governo: berrar, chamar artistas para berrar junto, ocupar repartições públicas, convocar manifestações de rua. Os negaceios de Temer denotam insegurança e falta de autoridade.

Temer lembra seu paradigma, José Sarney, o outro presidente que nasceu no rabecão do cabeça de chapa. Sarney era assim. Para que o povo não reclamasse da inflação, inventou o tabelamento de gêneros de primeira necessidade, que provocou a escassez. Resultado, atochou-nos a inflação de 200%. Foi dele Sarney a iniciativa anti-laica e cafona do “Deus seja louvado” na moeda de papel.

Na ladainha de ilegitimidade de Temer por falta de votos, o PT mira no vulto e esbarra na sombra. O vice elege-se na caçamba do titular, ainda que seja popular como o palhaço Tiririca. Sem ter votos seus, assume inseguro, timorato – a palavra rançosa orna com Temer, o gótico. Porém, se o pecado original é saneado com o batismo, a ‘ilegitimidade’ da falta de votos próprios é saneada com o governo vigoroso, decidido.

A república não morreu na casca graças ao vice-presidente durão, tinhoso e manhoso, o alagoano Floriano Peixoto, que sucedeu o presidente Deodoro, a quem nunca ajudou. Ao contrário de Temer, Floriano peitou tudo e todos. Conseguiu governar durante a Revolta da Armada e a Revolução Federalista, que operavam em aliança, no Rio e no Sul. Dois anos e pouco na presidência, voltou para casa.

Uma curiosidade. Floriano decidiu governar com o título de vice-presidente, nunca usou o de presidente, nada o impedia. (O PT só aceitaria sendo Floriano filiado seu, da CUT ou do MST.) Na primeira república o presidente e o vice podiam ser eleitos em chapas separadas. Floriano teve mais votos como vice que Deodoro, o candidato que se elegeu para a presidência da primeira república.

Seriam os votos próprios a marca do presidente decidido? É relativo. João Goulart foi vice duas vezes com votação própria e caiu por ser vacilante. É matéria complexa, vai do campo da personalidade ao ambiente político. Mas um presidente vacilante é trágico neste momento. As vacilações de Temer, emblemáticas na tolice da ‘mulher no ministério’, ainda recriam Dilma, que é mulher e não vacila.

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