7:05Mudar para continuar igual

Hoje tudo muda para continuar no mesmo. Dilma Rousseff vai para o estaleiro antes da guilhotinada final não pelos votos do Congresso, mas pela mistura de incompetência administrativa, enxovalhamento com as denúncias de corrupção, soberba e uma pitada de delírio da pior espécie. Lula da Silva, seu criador, deve estar arrependido até o último fio de barba da escolha que fez. Talvez tenha se entusiasmado com os gritos que ela dava nos bastidores dos seus governos. Descobriu tarde que os que gritam não comandam, apenas demonstram falta de liderança – e como os que estavam ao lado dela souberam disso, a barafunda foi armada porque deve ser estimulante tentar dar palpite sobre um país com 205 milhões de seres que olham para um presidente como um deus que tem obrigação de saber tudo e resolver todos os problemas. Deu no que deu. Um dos mais tristes e patéticos períodos da história da república, que começou com um golpe, como bem lembrou Rogerio Distefano neste espaço. Golpe? Hummmmmm. Quem deu o golpe em si mesmo foi o Partido dos Trabalhadores que, em pouco mais de um ano do quarto mandato consecutivo, se esfarelou e entregou o doce para quem mesmo? O PMDB que, como o maior partido fisiológico do país, agradeceu a oportunidade de chegar ao poder máximo desta maneira. Um dia, o vice-presidente Michel Temer era o aliado incondicional dos governos Lula e Dilma; no outro, ao ser convidado indiretamente para assumir o espaço de alguém completamente perdido diante de um país afundado em crise econômica e política, topou a parada, cravou o punhal, virou as costas, atraiu imediatamente o andar de cima do poder empresarial e as moscas que gravitam sempre em torno do odor doce dos cofres públicos, o mesmo que inebriou os petistas –  e fez. O que? O que a chamada grande imprensa batalhou arduamente desde que Lula da Silva mostrou a face de desfaçatez no episódio do Mensalão, que ele nunca soube, mas botou para fora do governo o que seria seu sucessor, este mesmo que está preso em Curitiba, José Dirceu. A roubalheira no poder e em seu entorno é regra neste país de desvalidos. Acontece nas menores prefeituras, passa pelos governos dos Estados e sempre esteve presente na presidência. O chamado modus operandi é que muda. O PT foi incompetente até nisso, achando que levaria seu projeto de poder no mínimo por 24 anos, como um dia Gleisi Hoffmann falou em entrevista como candidata ao Senado – e hoje ela é denunciada por supostamente usado dinheiro sujo para se eleger. O PSDB, o que fica sempre em cima do muro, perdeu a eleição em 2014 para Dilma, chorou feito menino mimado e agora vê o PMDB assumir o poder com chance de continuar nele, mesmo se sabendo que apito toca o partido de Romero Jucá. Aécio Neves é isso aí mesmo, o neto de Tancredo, enrolado em denúncias e parecendo um escoteiro diante de Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente que um dia foi “de esquerda”, tem o mérito de participar da criação do Plano Real, que estabilizou a economia, mas também um dia ainda será visto através do filtro do lado escuro das privatizações. Mas fala direitinho, tem a pose do intelectual, e isso faz babar os que pensam que entendem alguma coisa. No país dos analfabetos reais e dos funcionais, o avanço social feito pelos governos do PT deixa agora uma multidão no ar, para variar. Os miseráveis continuarão a receber a esmola do Bolsa Família, mas os pobres que deram um passinho adiante, sentem a dor da facada no bolso. A classe média, essa foi à rua com bandeiras e panelas e elegeram o juiz Moro o herói da vez, como fizeram com Joaquim Barbosa, sonhando até com ele na presidência, provando como é triste e indigente o país. Os ricos, bem, esses continuam contribuindo intensamente para aumentar o fosso que os separa do resto e achando que governo bom é o que os protege, seja ele petista, peemedebista ou, por que não?, militar. Portanto, a conferir.

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Uma ideia sobre “Mudar para continuar igual

  1. Zé Ninguém

    Hoje a cabeça da querida companheira não cai ainda no cepo, mas ela sobe no cadafalso a espera da lâmina que vai nos livrar da companhia dela para sempre. Acredito que o Temer tem tudo para mudar os rumos do País, mas duvido que ele o faça. E duvido pelo que ele é, pelo que ele representa, os ministros que ele escolheu já dão mostra de que grandes coisas ele não vai realizar, vai contemporizar com a beira do abismo. Passado o perigo que cair abismo abaixo, quando os donos do dinheiro perceberem que já não correm mais sérios riscos de perder o que já tem, a roda da economia começa a girar novamente. Esperar mudanças profundas nem pensar, o Temer só vai trocar os porcos porque o chiqueiro vai continuar o mesmo.

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