7:38A cartomante de Curitiba

por Claudio Henrique de Castro 

Esperou pacientemente pois havia uma senhora na sua frente. Passada meia hora, finalmente seria atendido.

Viajou centenas de quilômetros, voando até o Afonso Pena. Discreto e sem ser percebido – mas teve que esperar para ser atendido.

A fama da cartomante era enorme. Diversos políticos a consultavam. Não cobrava caro pela “consulta” – e o que ela previa, acontecia. Tinha se transformado numa espécie de oráculo de Delfos dos poderosos.

Sem qualquer cerimônia, ela ordenou: “Corta o baralho em três montes”.

Antes de virar as três cartas, afirmou ao consulente: “Você veio de Brasília”.

Ele confirmou, acenando a cabeça.

A cartomante prossegue..

O baralho revela, na primeira carta: “As ignorâncias são defeitos do entendimento; os pecados são defeitos das vontades”.

A segunda carta: “As mudanças vêm a galope”. Naúltima carta do monte: “O povo quer votar e não mais ser enganado”.

A cartomante completa: “É o que diz o baralho”. E emenda: “Mais alguma pergunta?”

Agora ele responde ansioso: “Sim Dona Ruth! Gostaria de saber se terei êxito no que pretendo”.

Novo corte no baralho! “Olha, o correto são as eleições pelo voto do povo. Mas o Brasil nunca foi acostumado ao correto e muito menos às eleições”.

Próxima pergunta. “E se não foram convocadas eleições?”

Nova carta. “Sem eleições gerais você assumirá, sem ter um único voto popular. Faça uma mudança na economia e estará tudo resolvido”.

Ele: “Mas como vou assumir se sou o vice?”

Dona Ruth responde: “Acredite! O baralho não mente”.

Ele pergunta quanto deve. Ela diz que a consulta é cinquenta cruzeiros.

Baixou um silêncio e um sentimento de surpresa.

Ele ficou pensando no que ouvira. Veio de Brasília falar com a cartomante e ela respondeu o que queria escutar. “Vou continuar meus planos, fazer alianças com quem for preciso e se ela estiver certa, vou me tornar Presidente do Brasil. A Constituição e o povo que se danem, nunca tiveram importância neste país e todos sabem disto”, concluiu.

Passou as mãos no bigode e voltou à Brasília, exultante e feliz. O ano era 1984.

Passados 32 anos, a mesma profecia das cartas pode se confirmar, mas ainda não se sabe e novamente vai ecoar nas ruas aquele grito de Diretas Já!

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