9:46Cadê o Atletiba?

por Sergio Brandão 

Onde anda o Atletiba, além das poucas manifestações que vejo? O Atletiba da Boca Maldita, da Rua XV, do bate-boca nos pátios das escolas, das camisas que se via pelas ruas na véspera de clássico? Tinha provocação, apostas, deboches lembrando os resultados mais marcantes.

Mas parece que o Atletiba ainda não morreu. Sobrevive, passa por um momento de mutação, quem sabe. Talvez seja mesmo a tendência dos campeonatos regionais. Num futuro muito próximo, vai servir para revelar as categorias de base, como tentou e não conseguiu o Atlético, em anos anteriores. Ou apenas será história para ser contada?

Nem nas arquibancadas as duas torcidas representam mais aquele calor que se via nos bons e velhos tempos. Coisa que tomava conta da cidade durante muitos dias, a semana inteira. Até quem não gostava de futebol sabia do clássico.

Torcida e times não se acertam mais. Quando tem gol, não tem gente pra ver. Sem ídolo, sem bate-boca, sem torcida e ainda sem estádio. Como o Atletiba de alguns anos trás que chegou a ser disputado na casa de um outro adversário (Vila Capanema), às 7 e meia da noite.

Sou do tempo que o frango assado do almoço de domingo já vinha com sabor de Atletiba. Atletiba era a sobremesa de domingo, não o jantar, como nos últimos anos. Era almoçar, escovar os dentes e todos os caminhos levavam ao Belfort Duarte ou ao Joaquim Américo, ou ainda no bom e velho Couto.

Você que nasceu na década 90, que ouve falar dos grandes clássicos, herdou o que há de melhor do futebol paranaense – que viveu seus momentos de glória nas décadas de 50, 60 e 70. A você, fica a responsabilidade de repassar a paixão por um Atletiba daqui pra frente.

Atletiba de Kruger, Jairo, Sicupira, Nilson Borges, Passarinho, Claudio, Belini, Dirceu, Abatiá, Zé Roberto, Toinho, Ziquita, Nilo …

É difícil engolir a falta ou a pouca emoção quando o assunto é o clássico. Acho que a falta de ídolos é um pouco responsável por isso. O último a jogar um Atletiba, com sangue na veia, quem sabe tenha sido o Alex.

Jogar uma partida dessa importância era como representar o país numa guerra. Não sei se jogar um Atletiba não é mais importante até que ser convocado para defender a seleção brasileira, nos dias de hoje. Pelo menos era.

Algumas vezes vi a verde e branca e a vermelha e preta saírem ensanguentadas depois dos 90 minutos. Tudo pelo calor da disputa.

O futebol mudou, o Atletiba também. Mas era na rua onde tudo começava – e onde ainda se respira um pouco da magia do clássico, onde quem sabe esteja a redenção dele.
É onde percebo mais o amor e a rivalidade. Onde já se viu um Atletiba com pouco mais de 6 mil pessoas na arquibancada, como o do ano retrasado, disputado na casa do Paraná Clube?

Não é o caso deste clássico de domingo, mas ainda passa longe dos públicos que lotavam o estádio do Coritiba, o único capaz de atender as necessidades da época, muitas vezes recebendo perto de 40 mil pessoas.

Hoje, os dirigentes espantam a torcida, oferecendo carga menor de ingresso, sem nenhum interesse que o adversário compareça à festa. Sinal dos tempos.

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