6:46Os brasileiros em 1732 e agora

por Claudio Henrique de Castro

No anuário italiano de 1732-1733 há menção da história de Portugal e de uma província que é a mais rica joia da coroa portuguesa.

Nela havia quatorze capitanias, dentre as quais a primeira de São Salvador, mais Olinda de Pernambuco, Porto Seguro e Espírito Santo. Essa colônia é situada em zona tórrida e temperada e cujas águas são ótimas.

Há centenas de populações que falam línguas diferentes e ainda tribos antropofágicas.

As pessoas andam nuas e sem semear os campos, vivem da caça e dos frutos que a terra naturalmente produz em abundância.

Os habitantes chegam ordinariamente aos cem anos de idade, são de estatura mediana, testa grossa, face larga e cor vermelha quando adultos.

Das riquezas há uma tinta na qual a Europa chama de brasile que advém de uma árvore grossa e sem frutos, há minérios de ouro e prata, há jaspe, pedra semipreciosa, e cristais. Há abundante quantidade de açúcar, algodão, tinta vermelha, fumo, âmbar cinzento etc.

Das observações retiradas do anuário percebe-se que sempre o Brasil foi considerado um país rico e com potencialidades (01).

Da edição do anuário, passaram-se 283 anos, quase três séculos.

E neste meio tempo, a ciência e a técnica inauguraram a era de crescimento econômico moderno (02).

Para alguns economistas, a razão do fracasso econômico da América Latina em relação aos países hegemônicos explica-se pela ausência de programa ou visão de desenvolvimento econômico (3).

O iluminismo reinventou a democracia mas ela, na forma correta, e a justiça social, exigem instituições específicas e uma regulação por meio do direito que valorize o trabalho e não somente a renda. Só assim pode-se ter desenvolvimento econômico real (4).

Atualmente, no Brasil, se discutem políticas fiscais e medidas econômicas profundas que atingirão setores produtivos. De outro lado, as instituições financeiras atingem ganhos bilionários.

Há nisto uma grande contradição, pois o rentismo financista tem ganhos elevadíssimos enquanto que a indústria, o comércio e os serviços encolhem.

Pouco se discute o direito à felicidade, que está vinculado ao princípio da dignidade da pessoa humana e aos direitos sociais.

Na iminência de ajustes na economia que afetarão a população brasileira, é hora de refletirmos sobre os fabulosos ganhos dos bancos e instituições financeiras e o direito à uma melhor qualidade de vida para a maior parte da população que sustenta esses ganhos.

Em resumo, a política econômica deve visar à felicidade e ao desenvolvimento sustentado de todos e não somente uma dúzia de prósperos banqueiros. 

Notas

1. PITTERI, Francesco. La storia degli anni 1732 e 1733. Terzo libro.  Amsterdam: Livraria de Veneza, p. 166 e ss.

2. LANDES, David S. Riqueza e pobreza das nações: por que algumas são tão ricas e outras tão pobres. 12ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1998, p. 319.

3. LANDES, idem, p. 353.

4. PIKETTY, Thomas. O Capital no século XXI. Trad. Mônica Baumgarten de Bolle. 1ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014, p. 413.

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