7:17MEU CORAÇÃO

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 Tomografia do coração do poeta

por José Maria Correia

Meu coração é como meu país, imenso, profundo, angustiado e dramático.
Como o meu oceano de tormentas, azul e rubro de sal, de espumas e de sangue.
Um continente com rios caudalosos que arrastam esperanças aos crepúsculos.
E as muitas veias que me assustam são como serpentes mitológicas que trazem em seus ventres meus versos que querem romper as margens que estreitam as paixões de outros tempos ou de outras vidas.
Um coração escarlate de onde brotam cores de encantos – o anil do manto da virgem padroeira e o verde do mar da memória e do romance antigo.
Um escapulário que contém contos de sonhos encerrado em meu peito e que ressumbra com gravidade sonora ao cabo dos anos como um coro de catedral, em uma gruta de metafóricas sereias.
E que já ecoou tanto em alterados compassos de alegria ou melancolia nas ruas adormecidas em minha infância, nas esquinas dos encontros da juventude, nos vagidos noturnos dos leitos amorosos e ao lado dos esquifes das despedidas e do nunca mais nem talvez.
Um coração fatigado de recuerdos – e de perdas e danos, de lembranças, poesias de realejos e esperanças sempre sempre recorrentes.
Um coração de madrugadas de orvalhos curitibanos e surpreendentes bissextas manhãs de sol, com auroras de galos e cotovias que me despertam e não me deixam morrer ainda.
E um coração que caminhando para o poente aguarda as infinitas estrelas noturnas para de uma janela aberta ,na solidão da alma ,velar em penumbra e entre sombras a espera do amor incerto, que talvez surja para desafiar minha sorte, meu tempo de ir e meu destino.

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