por Zé da Silva
Capricórnio
Conhecia aquela curva porque era caminho para o centro da cidade. Totalmente fechada, mas quase sem trânsito. Uma via alternativa onde, um dia, quase foi atropelado por uma bicicleta que a fez no sentido contrário, na contramão. Ele não sofreria nada, estava protegido pela roupa de metal do carro velho, mas o do pedal… Escapou por pouco. Naquela noite ele viu pela primeira vez. Uma luz de varanda iluminando o pequeno retângulo na noite. Azul. Um azul tão intenso que o fez meter o pé no freio e ficar admirando a imagem, hipnotizado. Os faróis, fracos, iluminavam uma parte do asfalto, uma placa amarela com sinais em preto indicando a curva perigosa. Ficou ali como a descobrir um segredo da própria vida, igual àqueles que clarearam de repente, assim, na mente, revelações vindo não se sabe de onde. Fotografou com a alma. E seguiu o destino, mas num ritmo mais lento do que vinha. Queria descobrir-se mais como aquela varanda azul que sempre esteve ali.