9:02Para clarear a novela sobre o terreno do estádio da Vila Capanema

Do enviado especial

A novela da questão que  envolve o terreno de Vila Capanema, que foi sede do Clube Atlético Ferroviário, depois Colorado, hoje Paraná Clube, ainda vai render muito, mas é bom que muita coisa seja esclarecida.

A questão jurídica é antiga. Foi desencadeada quando a Rede Ferroviária Federal quis tomar o terreno do time, pelo saudoso advogado Mauro Nóbrega Pereira (grande caráter, decente como poucos), em defesa do Ferroviário, depois Colorado e depois Paraná Clube, exclusivamente por amor ao clube. Nunca recebeu um centavo de honorários. Pelo contrário, pagou custas e outras despesas do próprio bolso. Atuava em conjunto com o filho, Márcio Augusto Nóbrega Pereira, também um apaixonado pelo clube, que herdou a seriedade, competência e honradez do pai.

A tese defendida pelo dr. Mauro era que o imóvel pertencia ao patrimônio do clube, a quem fora cedido pela Municipalidade de Curitiba para a construção do Estádio Durival de Britto, que sobre ele mantinha a posse há dezenas de anos, e sobre o qual fizera inúmeras benfeitorias. Se isso não fosse reconhecido, o bem deveria ser devolvido ao Município de Curitiba e ao clube caberia o ressarcimento pelas melhorias e despesas feitas no local.

A ação foi julgada em primeira instância, depois de intensa luta jurídica nos tribunais, dando ganho de causa à União Federal, sucessora da Rede Ferroviária Federal, que fora extinta.

A sentença havia reconhecido como válida a matrícula apresentada pela Rede, determinando a desocupação da área no curto prazo de 15 dias, não reconhecendo o direito de indenização pelas acessões e benfeitorias feitas no imóvel e, consequentemente, o direito de retenção.

A questão, no entanto, não estava (como ainda não está) terminada. Em nome do Paraná Clube, Márcio, que assumiu sozinho a causa depois do falecimento do pai, recorreu ao Tribunal Regional Federal, com sede em Porto Alegre.

Na quarta-feira 15.07, ocorreu o julgamento, no TRF, da apelação do Paraná Clube contra a sentença que julgou procedente a ação reivindicatória requerida pela Rede Ferroviária Federal (posteriormente substituída pela União Federal), envolvendo a Vila Capanema.

Márcio foi a Porto Alegre para o julgamento, distribuiu Memoriais aos desembargadores e fez sustentação oral. A perspectiva inicial era de que a sentença fosse confirmada.

No entanto, o Relator deu provimento parcial ao recurso do Paraná Clube, reconhecendo o direito do clube de ser indenizado pelas acessões e benfeitorias construídas de boa fé no terreno.

Esta é a leitura positiva que se deve fazer do voto do Relator, até porque enquanto não houver o pagamento dessa indenização, cabe ao clube o direito de retenção, ou seja, não poderá ser desalojado da área.

No entanto, ao divulgar a notícia, o jornal Gazeta do Povo preferiu dar o resultado como contrário ao Paraná Clube, retificando em parte o que fez ao publicar na edição de hoje a questão da indenização.

Também positivo foi o pedido de vista dos autos feito por outro julgador, o desembargador Vogal, que afirmou precisar estudar melhor a questão. Do mesmo modo que a decisão da desembargadora Revisora, que poderia ter votado, encerrando a questão, mas preferiu não fazê-lo, aguardando o voto do desembargador Valle Pereira.

É evidente a dúvida dos julgadores, e essa dúvida, por certo, milita a favor do Paraná Clube. 

Por isso, lamentável (e até maldosa) a primeira versão dada pelo jornal, sobretudo na versão on-line, que acabou virando fofoca de baixo nível, criou um atrito desnecessário entre o advogado e a Prefeitura Municipal, e levou a turma do Município a emitir uma nota de “repúdio” (!) às declarações do dr. Márcio (quando, na realidade, ele está defendendo o interesse do próprio Município).

O jornal foi além, noticiando que a atual diretoria do Paraná Clube pretende ir à Prefeitura “desfazer o mal-entendido”… Mas que mal-entendido? O criado pelo repórter?!

Segundo o advogado Márcio Augusto Nóbrega Pereira, existem duas questões a ser levadas em consideração: uma, é a participação do Município no processo, como parte (litisconsorte passivo necessário); e outra, a participação do Município na negociação para uma composição amigável com a União, e isto porque tem interesse na área para fazer o seu centro administrativo.

Com relação à participação do Município no processo, como parte, ao contrário do que diz a Nota da Prefeitura, ela não só pode como deve participar da causa, como, aliás, já fizera na anterior ação possessória, para salvaguardar os seus direitos, isto porque o que se discute na atual ação não é se o terreno onde foi construído o estádio pertence à Rede/União ou ao Paraná Clube, mas se pertence à Rede/União ou ao Município. Daí a omissão do Município, reclamada inclusive no processo. E isso precisa ser dito publicamente, por ser absoluta expressão da verdade.

Quanto à participação do Município na negociação com a União, limitou-se o Município a mandar um ofício à então Ministra do Planejamento solicitando o imóvel. Se o Prefeito quisesse mesmo resolver a questão, deveria ter ido a Brasília e, pessoalmente, defender a sua pretensão. É obvio que uma questão desse porte não se resolve com um simples e singelo ofício. E isso também precisa ser dito de público e não se acomodando e/ou transferindo o erro ao Paraná Clube.

Desse modo, não há dúvida que, sob os dois aspectos, o Município de Curitiba foi omisso e a Nota de repúdio representa apenas “jogo para a torcida”.

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3 ideias sobre “Para clarear a novela sobre o terreno do estádio da Vila Capanema

  1. El Chapo

    Toda vez que leio algo sobre o jornalao, que representa alguns figurões paranaense, fico com duvida se eles usam sempre ma-fé em suas reportagens ou é incompetência mesmo….

  2. Clint Eastwood

    E para isto os procuradores do município ganham a bagatela de R$22.000,00. Por menos que isto litigaria para a Prefeitura pelo resto da vida, até a vitória final. Este Guga prova a cada dia o que sempre digo, o cara não-faz-nada mesmo. Então fica aí o aviso para os paranistas, Fora Guga em 2016. Lembro que não sou torcedor deste time, sou sofredor sim, mas de outro timinho.

  3. Luiz Fanchin Jr

    Lamentável esse litígio dura dezenas de anos e vai durar mais algumas dezenas. O autofagismo inerente ao paranaense nos leva a essas demandas. Tudo começou por um simples ato de desagrado por não terem alguns membros, do então Ferroviário, sido convidados para compor a diretoria do novo clube, o Colorado. Num ato de vingança preferiram entrar com ação contra o o clube sem qualquer interesse senão o de melar a fusão. Ainda, depois de muito diálogo, chegamos a um ponto de efetuar um acordo com a RFF, fato comprovado com fotos em reportagens da Tribuna do Paraná, e documentados no meu livro “Este não é o meu Paraná Clube”. O que não aconteceu por um novo ato de autofagismo quando da mudança de diretoria do Paraná Clube. Quanto a imprensa, lamento que alguns “jornalistas” mal intencionados, provavelmente também pelo sentido de autofagismo, preferem não contar a verdadeira verdade. Lamento, mas assim é no meu Estado do Paraná o autofagismo que igualmente acontece na política.

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