7:26Detetives de carne e osso

por Yuri Vasconcelos Silva

Vinci. Uma cidade decadente próxima de L.A. Lixo e sucatas pelas ruas, fábricas que poluem rios e céu. Farrapos humanos empurram suas vidas em carrinhos velhos de mercado. Quando anoitece, as luzes brancas de mercúrio contrastam com as amareladas de sódio. Vistas do alto, parecem estranhas constelações em um universo fictício. Os tipos são típicos de um livro de Raymond Chandler ou James Ellroy. O policial alcoolista, o dono da boate, o juiz que vende sentenças. Prostitutas e perversões sexuais. Todos são corruptos. Um acha que é herói. A atmosfera noir é temperada com detalhes bizarros: um bar com um palco do tamanho de um box de chuveiro exibe performances melancólicas de figuras surreais. A silhueta de um homem vestido de ave é a pista essencial da trama que se desenvolve. A abertura é quase arte pós moderna, uma metamorfose entre os personagens e as cidades onde a trama se passa. As rodovias em nós de cruzamentos são as artérias dos corpos de seus protagonistas – imagens ao compasso de uma música nada usual para a tela.

Não. Não se trata do último filme de David Linch. É a requintada segunda temporada do seriado True Detective, exibido pela HBO.

Não é novidade. O cinema americano sofreu um esvaziamento de boas idéias. Os roteiros decentes migraram para as produções continuadas na TV paga ou internet. É uma ótima notícia para quem prefere ficar em casa ou não vê problemas em acompanhar as estórias em um tablet. A qualidade das produções são equiparáveis a um filme do circuito comercial, mas o que de fato surpreende é a qualidade dos diálogos e a maneira como o roteiro se desenrola. Ao contrário de um filme, que deve segurar a audiência por um período de duas horas, um seriado tem a mesma tarefa por um tempo bem mais extenso. Portanto, precisa de uma trama muito bem elaborada, sem furos e que segure a audiência.

True Detective não é o único policial de qualidade acessível pelo controle remoto ou Google. Produzido pelos irmãos Coen, Fargo dá continuidade ao filme original de mesmo nome, recheado de referências e do habitual humor negro dos dois. A atuação de Billy Bob Thornthon em Fargo e de Vince Vaughan em True Detective são os prêmios que vêm dentro do pacote. As boas produções apostam e quase sempre  acertam na escolha do elenco.

Não é só deste lado do planeta que boas séries policiais têm entrado pelo cabo. A Dinamarca é referência na produção deste gênero, com algumas de suas criações adaptadas mundo afora. É o caso de “A Ponte”. Um corpo sem vida, dividido ao meio e repousado sobre a linha  da divisa de dois países, sobre uma ponte, dá início à investigação conjunta de dois países. The Killing, outra produção dinamarquesa, desta vez sobre o assassinato de uma jovem envolvendo a alta cúpula de um partido político. Além das boas estórias e da cuidadosa produção, outras características comuns amarram todos estes títulos: as investigações acontecem através de parceiros antagônicos. Sempre há uma detetive mulher, mais eficiente e forte que o masculino. E, claro, todos têm esqueletos em seus armários. As séries nos mostram as vicissitudes de detetives policiais dentro de seus universos. Muitos deles com um pé no lado de cá e outro além da linha-limite da lei e moral. Esta dualidade vacilante dos investigadores confere riqueza e humanidade que encanta aqueles que apreciam este gênero num livro ou na tela. Uma saudação à Chandler e sua rica herança para seus discípulos, escritores e roteiristas.

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8 ideias sobre “Detetives de carne e osso

  1. Sergio Silvestre

    Acabei de fazer também um comentarinho repetitivo,até por falta de assunto que estão ficando raros.
    A sorte são os políticos que alimentam imaginações com instintos animalescos,sempre falando mal dos coitados.
    É tanta porcaria nos cinemas,é tanta falta de imaginação que vou convidar o Leandro para ser co-autor de uma saga para se filmar em 2018,vai se chamar ‘LULA PELA 3º VEZ EU NÃO AGUENTO”

  2. leandro

    Quando a matéria inicial, nada a reparar e sim elogiar , pois reflete a realidade da série e agora do filme. Todavia não vi a ligação do comentário com o assunto e muito menos comigo, mas que vá! Diante da sugestão, n~]ao seria de om grado, pois com certeza faria com que a audiência soubesse da realidade do ” mito 51″, com a troca da substância etílica.
    Assim devolvo a proposta e quem sabe o autor do comentário possa a ser o ator de um filme que pelo atual momento se chamará ” os burros também amam” . Aí todos poderão ver como o Lula, a Dilma, o PT são verdadeiramente amados.

  3. Sergio Silvestre

    Isso,os burros também amam é inédito,como as frases postadas do Rui Barbosa.

  4. Jorge Armado

    Impressionante. Um simples comentário sobre série de tv – aliás, um bom comentário- vira um embate ideológico… esse pessoal só pensa naquilo…Menos gente, menos. O mundo é um pouquiiiiinho maior que pt e psdb.

  5. TOLEDO

    Silvestre, o Gardenal não faz mas efeito para o Leandro. Ele sofre de dor de corno latente, devido a escolha dos Piás. O de Queijo de Minas que diz que é Carioca e do Piá de Prédio o turquinho bronzeado.

  6. leandro

    Então apareceu o outro burro. Tá completo , agora podem iniciar o filme ” os burros também amam”.

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