8:17Engolindo o Velho Lobo

por Alvaro Costa e Silva

É duro recordar: o Brasil já esteve numa Copa do Mundo –a de 1990, na Itália– comandado por um homem chamado Sebastião Lazaroni. Saímos eliminados pela Argentina, nas oitavas, gol de Caniggia, depois de jogada espetacular de Maradona. Foi um trauma. Diante do eterno 7 a 1 parece pouco, mas me arrisco a pensar que a atual indigência do futebol brasileiro guarda origens naquela derrota.

Lazaroni tinha fama de cabeção das pranchetas. Na verdade era um aluno-decoreba, capaz de dizer coisas como “a arte é um requinte que se pode usar a cada momento. No entanto, só com arte não se ganha mais títulos”. Tampouco ganhamos com o esquema 5-3-2, com inacreditável líbero fixo, que ele inventou.

Apesar das duas conquistas mundiais pós-Lazaroni, o mal estava feito. Contra qualquer sinal de inovação tática, os cartolas da CBF adotaram a postura dos patriarcas do tri (Zagallo, Parreira), do “paizão” (Felipão) ou do “tiozão” (Dunga). Aqueles que, supostamente, falariam a linguagem pura e simples da bola. Do resto, nossos craques dariam conta.

Pois agora, que não temos mais craques (salvo Neymar) e a bola virou sua excelência, faltam os estudiosos do jogo, como há exemplos de sobra na Argentina –o agitado Jorge Sampaoli, campeão da Copa América pelo Chile, é um deles.

Não surpreende, portanto, o “sincericídio” de Daniel Alves: o catalão Pep Guardiola desejou treinar a seleção e tinha até um projeto para levantar o caneco no Maracanã. Guardiola, além de estrangeiro, é um dos maiores inovadores recentes do esporte. Jamais serviria à CBF. Esta já reagiu à altura: chamou Zagallo, o Velho Lobo, para consultor-geral e criou um conselho de notáveis do qual farão parte Leão, Carlos Alberto Silva, Candinho, Ernesto Paulo e… Sebastião Lazaroni. Vamos ter de engolir todos eles.

*Publicado na Folha de S.Paulo

Compartilhe

Uma ideia sobre “Engolindo o Velho Lobo

  1. Sergio Silvestre

    Tenho um raspa de tacho na escolinha meninos da vila e as vezes falo com o treinador que até o ano passado era o Juari e agora é o Silvinho que jogou muito no Londrina e ficou por mais de uma década no Japão.
    Eu não tenho papas na língua então as vezes eu discuto futebol com eles e em parte até me dão razão estamos em decadência por que estamos imitando os Europeus e toda imitação é inferior a original,
    Deixamos de lado o futebol arte e enveredamos pelo esquema mecânico de toque de bola dos Europeus onde o preparo físico predomina.
    Nos treinamentos do meu menino,vejo pouca bola e muito cone,e os goleiros é uma raridade,onde o preparo físico é 80% dos treinamento e com bola 20% .
    E quando a gente pensa que esses 20% vai ser um jogo livre,eis que os treinadores vem com um toque só,quando muito dois toques,onde eles aprendem a não jogar futebol,mas praticar uma coisa que é posse de bola ,mesmo que o jogo fique chato,onde para se fazer um gol é uma tarefa dificil para qualquer time .
    Quais os craques do mundo hoje?Messi com uma perna só,Cristiano Ronaldo só com seu coice de mula e o Neymar que teima não ser a mesmice do futebol.
    Quando um avante dribla dois zagueiros e faz um gol de placa é tão comemorado como uma viagem a lua,muito difícil nos dias de hoje,e só vi uma vez em 5 anos o Neymar fazer 3 jogadas identicas,uma contra o flamengo e duas no mesmo jogo contra o internacional,no mais os gols mais bonitos que nos mostram em fim de ano são aquelas cagadas quando o cara acerta um chute que pega na veia e parece ser um gol bonito,mas não um gol de placa.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.