10:4815 anos de literatura ou O dinossauro que sobreviveu à hecatombe

Editorial de Rogério Pereira na edição que comemora os 15 anos, completados hoje, do jornal Rascunho ( www.rascunho.com.br)

O Rascunho chega aos 15 anos com esta edição 180. É algo a ser comemorado? Tenho dúvidas de que seja. Meu arrogante pessimismo não me deixa entrever grandes comemorações quando se trata de literatura. Mas, digamos, é um fato relevante, levando em consideração o ambiente inóspito no qual o Rascunho sobrevive. É uma história de sobrevivência — o que também não é grande novidade. Periódicos literários (com raríssimas exceções) têm uma característica rastejante quase insuperável. Aos solavancos, aparecem e desaparecem. Muitos deles sem qualquer protagonismo. Sobreviver parece ser a sina a que fomos condenados. Neste caso, o Rascunho talvez seja um animal raro, um dinossauro que sobreviveu à hecatombe. E, agora, ao chegar à adolescência, tenta com todas as forças alcançar a idade adulta. Talvez seja possível.

É claro que ninguém (muito menos eu) imaginava que aquela reunião num boteco apertado e cheirando a bolinho de carne, em Curitiba, resultaria, segundo alguns, em um dos principais veículos culturais do Brasil. Tudo isso graças ao empenho de dezenas de pessoas todos os meses. Então, este é, sem dúvida, um momento de agradecimento. Seria impossível chegar até aqui sem a dedicação de todos os colaboradores (jornalistas, escritores, ilustradores, críticos, professores, designers, etc.), que a cada mês emprestam um pouco do seu tempo e talento ao Rascunho. Desde aquele 8 de abril de 2000 muita coisa mudou. O jornal cresceu, passando de 8 páginas para as atuais 48. No início, éramos cerca de 10 abnegados. Hoje, praticamente um exército de 50 pessoas a cada edição. O Rascunho espalhou-se Brasil afora. E é lido por quase 50 mil pessoas (nas versões impressa e on-line) todos os meses.

Mas um aspecto continua intacto, inabalável: acreditamos muito na importância da literatura na vida das pessoas, na vida de um país como o Brasil. Muitos de nós perdemos a vitalidade do corpo, o tempo faz o seu laborioso trabalho, com métrica e engenharia, mas seguimos firmes no propósito que nos levou a criar o Rascunho e a mantê-lo vivo, mesmo nos momentos de grande tormenta. O que nos move é um ímpeto quase juvenil de manutenção de um projeto necessário para nós e para milhares de outras pessoas. O amor (sim, talvez soe um pouco piegas) pelos livros é o que sustenta o Rascunho nestes 15 anos. Não fosse isso, obviamente, estaríamos carpindo outro matagal, desbravando outras selvas, matando outros animais.

E, juntamente, com todos os colaboradores vêm os nossos assinantes. Distante do mercado publicitário, o Rascunho mantém-se hoje graças aos seus entusiasmados leitores. Nosso objetivo para 2015 é chegar à marca de 4 mil assinaturas. Para o mercado editorial esta marca é risível. Mas para o Rascunho é a certeza de que mais 15 anos são possíveis.

Este editorial meio torto, meio desconexo, só pode acabar com algo extremamente necessário: muitíssimo obrigado a todos que (de alguma maneira) contribuíram (e contribuem) para que o Rascunho chegasse até aqui.

Um abraço e até o editorial de 30 anos.

rascunho

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