Para quem tenta acompanhar o que se passa neste país há algum tempo, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, a sensação que se tem é que todo dia estão jogando lixo para dentro de nossas casas – e o pior é que os responsáveis pelo chorume fétido que escorre do entulho podre foram escolhidos pela maioria no processo que se dá o nome de democracia através do voto. O lixo sempre existiu, desde que Cabral aportou por estas terras e os portugueses começaram a enganar os índios para, um pouco mais tarde, começar o saque das riquezas para enviar ao outro lado do Atlântico. Depois foi institucionalizado com a proclamação da República, que veio num golpe, antecipando alguns outros que marcariam a história, onde se ressalta a trajetória de Getúlio Vargas, um ditador que voltou ao poder pelo voto e, ironia, foi o pai da criação da Petrobras, essa que abriu as comportas do lixão que há um ano está a nos mostrar o quanto estamos preparados para ser potência – potência de roubalheira, esclareça-se. Nesta caminhada um dos capítulos mais recentes foi o tempo em que os militares exerceram a ordem unida com revezamento de comando, ditadura que teve apoio inicial da grande imprensa, principalmente da Rede Globo, que se beneficiou ao máximo para estender os tentáculos e aumentar a dose de anestesia na maioria da ninguenzada enquanto o pau comia nos porões em cima dos delirantes que sonhavam com outro tipo de ditadura. Quando os fardados resolveram entregar a rapadura e voltar aos quartéis, tivemos o retorno da democracia com… com… José Sarney e Fernando Collor, este impichado por tentar achacar, na cara dura, através de seu capanga Paulo Cesar Farias, a turma do andar de cima, os donos do grana, enfim, os donos do poder. Fernando Henrique Cardoso,  o sociólogo que pediu para esquecerem o que escreveu, veio em seguida – ele que foi “de esquerda”, tem o aval de ter estancado a zorra da economia com o Plano Real que ajudou a parir no governo de Itamar Franco, mas depois ganhou a marca da privatização que, se, por exemplo, tirou o país da taba no setor de telefonia, protagonizou um dos maiores escândalos ainda não esclarecidos de favorecimento em troca de propinas da história do país. Aí chegou a vez de Lula, o “operário”, chegar ao poder carregando a esperança de que, agora sim, algo ia mudar, porque o pau de arara de Garanhuns pertencia ao povo e seu partido, o PT, sempre lutou contra a picaretagem, a roubalheira, etc. Deu nisso que está aí. Lula governou abraçado com os 300 picaretas que ele disse existirem no Congresso. Ele disse que não viu, mas seus principais ministros do primeiro mandato tiveram de sair correndo do governo por causa das falcatruas que acabaram gerando o Mensalão – e Zé Dirceu, que provavelmente seria o sucessor, foi preso, assim como cardeais do partido. A ação social dos governos do torneiro mecânico, de fato, nunca antes na história foi feita. O caixa da viúva se abriu para o Bolsa Família e se isso botou um pouco de comida na mesa de quem não tinha nada (mas continuou sem trabalho – e muitos se acostumaram à facilidade), também facilitou a eleição e reeleição de Dilma Rousseff, enquanto o país entrou num processo de degradação econômica e barafunda política que, ao explodir a Operação Lava Jato, ressaltou a impressão de que Brasília vive num universo paralelo, onde tudo pode ser feito – e isso é compactuado com as empreiteiras que sempre se beneficiaram da zorra (nunca é demais lembrar que as “irmãs” se expandiram nas obras faraônicas dos governos militares). A diferença dos tempos das falcatruas de agora para as de antes (alguém fala que a construção de Brasília, por Juscelino, foi um assombro em propinas?) os meios de comunicação são como uma tsunami que invadem tudo. E o lixo é jogado para dentro das casas porque isso também dá ibope. E a ninguenzada fica esperando alguém que vá limpar tudo. Isso não vai acontecer.