13:58Antonio Figueiredo Basto: “Youssef é um baita comerciante!”

por Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo

Advogado de Youssef diz que não vê ‘resquício de corrupção’ em Dilma

O escritório do advogado Antonio Figueiredo Basto, 50, fica em um sobrado de três quartos no bairro Mercês, em Curitiba (PR). A recepção tem dois sofás de couro, rasgados e com a espuma aparecendo em alguns lugares. Na mesa lateral estão as revistas “Época” e “Veja”, que diz: “A Operação Lava Jato e o PT”. Outra publicação, “Bom Gourmet”, ensina a fazer hambúrguer.*

Basto chama a colunista, recebida por ele há alguns dias, para a sala de reuniões. E começa a falar de seu cliente mais famoso, “o Beto”, como ele chama o doleiro Alberto Youssef, pivô da Operação Lava Jato preso há um ano por lavar dinheiro de corrupção na Petrobras.O advogado 

“Eu já libertei ele de umas cinco prisões”, diz (Youssef já foi detido nove vezes). “O primeiro caso que tive com o Beto foi o da Prefeitura de Londrina [de lavagem de dinheiro]. Outro foi o da Copel [de irregularidades na empresa de energia do Paraná], um caso de enorme repercussão. Envolveu toda a Assembleia Legislativa do Paraná, secretários de Estado [para quem Youssef repassava propina]. Eu estava em casa e minha ex-esposa diz: ‘Olha lá teu cliente no ‘Fantástico”. Cinco minutos depois, ele liga. E eu: ‘Corre para o meu escritório’.” Youssef ficou só dois dias preso.

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Nos anos 2000, nova encrenca: “Beto” se envolveu no maior escândalo do país sobre remessas ilegais ao exterior, o do Banestado. Respondeu a “40 inquéritos e dez ações penais”. Fez delação premiada e escapou da prisão. “Foi o primeiro grande acordo de delação. O modelo que tá aí, fui eu que desenhei. Autorizei depois o Ministério Público a usar. Até lecionei para eles.”

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Na Lava Jato, Youssef delatou de novo, em troca de alívio no castigo. Vai ficar preso por três anos.

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“O Beto se criou desde garoto vendendo coxinha no aeroporto de Londrina. Ele tinha sete anos”, relata o advogado. “Com 14, já pilotava avião e trazia contrabando de outros países para o Brasil. Ele é um baita comerciante, um cara simpaticíssimo, conversador. Não foge do pau. Ele vai buscar.”

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Quando fala da Lava Jato, Basto atira para cima. “Essa é uma organização criminosa ligada a um projeto de poder. Há alguém por trás disso tudo.” Desenha um organograma numa folha de papel. Coloca “Beto” na parte mais baixa da hierarquia. “Ele era um mero operador.”

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Escreve, acima do doleiro, os nomes de empreiteiros, diretores da Petrobras e partidos que davam e recebiam dinheiro. No topo, desenha um quadrado vazio. “Alguém aqui garantiu isso tudo. Se eu cortar o homem que tá aqui em cima, ou a mulher, se eu cortar essa cabeça, o resto embaixo some.”

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Em depoimento ao Ministério Público, Youssef disse que “Lula e Dilma sabiam de tudo”. É a isso que o advogado se refere? “O Beto vai explicar o que quis dizer com isso no depoimento que vai dar à Justiça no dia 30.” Basto passa então a defender a presidente Dilma Rousseff. “A Dilma, não. O Beto sempre diz que ela não está envolvida com corrupção, isenta a Dilma totalmente.”

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E segue: “Eu te diria quase que com certeza absoluta: não vejo resquício de corrupção nessa mulher. Ela mantém uma dignidade pessoal e não vendeu a honra. Digo isso como o primeiro advogado que chegou à Lava Jato”.

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E Lula? Basto desconversa, muda de assunto. Depois de um tempo, discorre sobre “a cegueira deliberada”.

“Soldados que cometeram crime de guerra são culpados. E quem tinha responsabilidade hierárquica sobre eles? É culpado? Aliás, o Stálin matou cem vezes mais do que o Hitler. Mas a esquerda adora tratar o Stálin como herói. Como faz com todos os grandes canalhas, o Hugo Chávez, o Fidel Castro, todos os outros babacas.”

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Diz acreditar que “a esquerda não gosta de pobre. Gosta é de sinecura, de empreguismo. Sempre aparelhou o Estado com os mais variados métodos, da matança à corrupção”.

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Basto afirma que nunca votou “e jamais votarei” no PT. “Aliás, votei uma vez, no Lula em 89, porque o Collor não dava.” Diz que, “lamentavelmente”, não pôde ir às manifestações contra Dilma, no dia 15, por causa de “compromissos familiares”. Acha que a presidente “deveria se desvincular imediatamente do PT, porque PT significa atraso e corrupção”.

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No começo da Lava Jato, foi acusado de ser ligado ao governador Beto Richa, do PSDB –o advogado já fez parte do conselho da empresa de saneamento do Estado. Dessa proximidade viria um suposto esforço para que Youssef atingisse o PT em suas delações. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chegou a dizer que Basto operava para o PSDB e queria interferir nas eleições.

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“Isso foi coisa do débil mental do [senador Roberto] Requião [do PMDB, que apontou a ligação do advogado com Richa]. Eu achava que ele não existia, mas me falaram que ele existe e que está por aí, solto.” Afirma que já ganhou ações contra o senador. “Por isso ele se importa tanto comigo.”

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É, sim, amigo de Richa, “desde garoto. Estudamos na mesma classe no Colégio Bom Jesus. Ele já foi meu cliente”. Votou em Aécio Neves para presidente. Sem ilusão. “Talvez, se ele ganhasse, as coisas estariam exatamente iguais.” Afirma não ser filiado a partido. “E minhas posições nunca influenciaram o meu trabalho. Defendo o meu cliente. Eu inclusive era contra o Beto fazer delação agora. Mas ele quis.”

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“A mim não importa o que dizem esses blogs financiados pelo governo [federal]”, diz. “A esquerda é pródiga em destruir a reputação alheia. Mas eu não tenho medo desses caras. A minha única ideologia é: sou contra corruptos e preguiçosos. E não gosto de anarquia.”

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Estava escrevendo um romance quando estourou a Lava Jato. Agora, não tem mais tempo. É também autor de contos. Em um deles, “O Inominado”, relata como o personagem tenta afastar de si “aquela fêmea que se contorcia sobre meu corpo”. E a reação dela: “Por acaso ‘você é um veado esnobe’, venha foder seu puto”.

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Contratado para negociar a delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, ele defende o lado empresarial da Lava Jato. “Um Ricardo Pessoa tem atrás dele 30 mil funcionários. Gerou emprego, tecnologia, progresso. Falam dessa coisa de elite branca. A elite branca toca esse país há mil anos. Ela carrega esse país nas costas sozinha.”

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Desafina o coro dos que acusam o juiz Sergio Moro, que conduz as investigações, de forçar delações premiadas ao manter os empreiteiros presos, numa situação que se assemelharia à tortura. “O meu cliente não foi coagido de jeito algum.” Ele se diz “um admirador” do juiz. Mas ressalva: “O protagonismo que a sociedade deu a ele é perigoso. Pode fazer com que ele deixe de ter a neutralidade necessária para julgar”.

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A era das facilidades para os advogados, de qualquer forma, acabou, diz Basto. “Não há mais espaço para a presunção de influência. Agora teremos de lutar realmente pela presunção da inocência.” E emenda: “Nós, advogados, temos que buscar soluções e teses engenhosas para defender, muitas vezes, grandes mentiras e situações indefensáveis”.

 

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Uma ideia sobre “Antonio Figueiredo Basto: “Youssef é um baita comerciante!”

  1. Vinhoski

    ” A elite branca toca esse país há mil anos. Ela carrega esse país nas costas sozinha.”, talvez seja uma figura de linguagem muito liberal… mas talvez seja algo muito racista…

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