6:43Os infinitos tons de uma cidade

por Yuri Vasconcelos Silva

Quando o Ippuc foi criado, em 1965, arquitetos urbanistas e outros importantes profissionais aspiravam um instituto inovador de onde nasceriam projetos inspirados, prontos para tomar de assalto a Cidade Sorriso. Mais do que isso, gestar e cuidar da espinha dorsal de uma urbe, responsável pelo sucesso ou tragédia do planejamento: o Plano Diretor. Mas, “de nada adiantava um plano e projeto perfeitos, sem o acompanhamento de quem vai executar e da população que vai usar” disse o então prefeito Ivo Arzua. Com esta visão, os projetos eram submetidos a audiências públicas para passar pela prova de fogo técnica e carismática dos que estavam de fora. A empreitada democrática foi um sucesso. Curitiba pouco a pouco implantou importantes projetos, como o sistema de transporte coletivo, sistema de drenagem através de barragens e parques, as estruturais e os pontos icônicos encontrados nos cartões postais. Para o bem da continuidade de uma visão, o Ippuc parece ter sido blindado. Com o passar do tempo, os concursos abertos para projetos de edifícios municipais ou discussões públicas sobre o planejamento foram minguando, até que o Instituto fechou o portão e decidiu, com a equipe própria, tomar conta de tudo. Tudo mesmo, até o desenho do orelhão. Um controle maior poderia também gerar um custo mais baixo na produção dos projetos e planos. Mas a falta de oxigenação dentro dos ateliês do Ippuc talvez seja uma das principais causas da monotonia do preto-e-branco nas soluções urbanísticas durante as últimas décadas.

Professores do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPR resistem e insistem, para alívio de muitos. Lançaram no segundo semestre do ano passado um trabalho de extensão que desafiasse o olhar monocromático do atual urbanismo curitibano. Os professores Dr. Aloísio Schmid e Humberto Mezzadri reuniram dezenas de alunos e alguns dos mais conceituados escritórios de arquitetura para apresentarem suas idéias e olhares para Curitiba. Os trabalhos estão em fase de finalização para a exposição de abertura deste ano no MusA. Será provavelmente uma das mais importantes mostras do museu em 2015. Os visitantes entrarão em contato com sensíveis apropriações da cidade, bem diferente do usual traço do Ippuc. Alguns trabalhos refletem uma cidade metamórfica com adaptações constantes aos seus habitantes. Outros são pragmáticos com suas praças que geram energia elétrica somente com o uso do espaço. Propostas conceituais, quase na fronteira com a arte, imaginam a relação psicológica do indivíduo com sua cidade e faz brotar daí seu próprio espaço, único, na urbe coletiva. E a praça, símbolo capital de todas as cidades do mundo, é resgatada em sua infância para costurar os espaços perdidos para os pontos de ônibus, veículos e concreto. Estas são apenas algumas das idéias que o grupo Arquitetura para Curitiba vai expor em março no MusA.

É improvável que a atual gestão da cidade aproveite ou estude alguma das idéias em parceria com a UFPR. Ainda que o Ippuc tenha recuperado a louvável idéia e reaberto os portões aos profissionais e população de Curitiba para discutir o Novo Plano Diretor, é quase certo que as idéias destes jovens arquitetos passarão março como uma chuva de verão. Refrescante, mas ligeira. Uma pena.

Onde e quando?

16 de março a 9 de maio de 2015, no MusA – Museu de Arte da UFPR. 

Rua XV de Novembro, 695 | 1º andar

*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto

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Uma ideia sobre “Os infinitos tons de uma cidade

  1. Jurandir Almeida

    Hehehe..prezado Yuri Vasconcelos Silva…
    Quando Curitiba tiver um prefeito de VERDADE, não meros enroladores como os últimos e o atual, pode ser que deem mais atenção para a nossa bela cidade.
    Seu texto é muito oportuno e claro. Falta apenas um bom administrador (prefeito) para ajeitar a cidade, mas ai o problema não é só da UFPR, dos ilustres professores e nem seu.
    O problema é de todos nós. Tomara que na próxima eleição para prefeito tenhamos candidatos razoáveis e com um minimo de inteligência.

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