14:46Não perca o show

por Tostão

… Começaram os Estaduais. É uma grande chance de se ver grandes craques, partidas de altíssimo nível técnico, ótimos gramados (até os dos pequenos estádios), arquibancadas lotadas, confortáveis, sem violência e com ingressos acessíveis.

Imperdível!

A íntegra da coluna publicada na Folha de S.Paulo:

Escrevi que Gerson, Cruyff e Xavi foram os atletas que melhor entenderam o jogo enquanto jogavam. Seria como se eles saíssem da partida para a arquibancada e voltassem para atuar, algo parecido com o personagem que saía da tela de cinema e retornava, no belíssimo filme de Woody Allen, “A Rosa Púrpura do Cairo”.

Cruyff é, entre os ex-jogadores, o que tem melhores ideias sobre futebol, apesar de muito criticado, às vezes ridicularizado, no Brasil. Foi o grande inspirador de Guardiola, que difundiu muitos conceitos, aos poucos, incorporados por grandes treinadores. É uma das razões do ótimo momento do futebol, pelo menos nos maiores times e seleções do mundo, como vimos na última Copa.

Cruyff é muito criticado pelas declarações polêmicas, que, com frequência, não são bem explicadas e/ou compreendidas. Quando criticou a escolha, pela segunda vez seguida, de Cristiano Ronaldo como melhor do mundo, não foi porque achou injusto nem porque não goste do atacante português. Penso que ele quis dizer que, diferentemente de Messi, Cristiano Ronaldo é apenas um excepcional artilheiro, que geralmente não brilha quando não faz gols e que dá poucos passes decisivos. Para Cruyff, Cristiano Ronaldo não teria o refinamento dos grandes artistas do futebol.

Cruyff deve ter se enganado quando criticou a contratação de Neymar, por achar que dois astros juntos fariam mal ao Barcelona. Sua preocupação era correta. A ambição humana, que, com frequência, não respeita a ética, é um fato corriqueiro. Mas existem também craques muito inteligentes, como Neymar e Messi, que sabem a enorme importância de um para o outro e para a equipe. Os dois se admiram e estão, a cada dia, mais entrosados. Cruyff mostrou que tinha também grande admiração pelo talento de Neymar, por pensar que ele logo seria uma estrela mundial, como agora é.

Para satisfazer meu exagero didático, que pode ser uma virtude ou uma deficiência, não se devem confundir os grandes pontas-de-lança, artilheiros, atacantes, que voltam para receber a bola e dão excepcionais passes, como Messi, Neymar, Pelé, Zico e Maradona, com os clássicos meias de ligação, como Alex, Riquelme e Ronaldinho, nem com os antigos meias armadores, como Gerson e Rivellino, nem com os atuais meio-campistas, mistura de volantes e de meias, como Kroos e Pogba.

Os pontas-de-lança e os clássicos meias são iguais apenas pela camisa 10. Os grandes pontas-de-lança e os meias armadores do passado são os principais responsáveis pela fama e sucesso do futebol brasileiro.

Começaram os Estaduais. É uma grande chance de se ver grandes craques, partidas de altíssimo nível técnico, ótimos gramados (até os dos pequenos estádios), arquibancadas lotadas, confortáveis, sem violência e com ingressos acessíveis.

Imperdível!

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2 ideias sobre “Não perca o show

  1. Professor Xavier

    Não fosse o “conservadorismo rançoso” que ainda persiste neste meio, e os campeonatos estaduais seriam coisas do passado, coisas para serem discutidas em mesa de bar, depois de tomadas muitas doses de bebidas. Campeonato estadual é de um anacronismo inimaginável, coisa de gente que ficou parada no tempo, em alguns aspectos.

  2. cético

    Acredito que o fase áurea do futebol brasileiro tinha seu alicerce nos estaduais fortes. Nós tínhamos um sistema genial, onde a participação no campeonato brasileiro, tanto da seria A, como da serie B, dependia de uma boa classificação no campeonato estadual e isso o valorizava, bem como distribuía com maior equidade a renda gerada pelos campeonatos entre todas as equipes, permitindo que equipes do interior do país pudessem sobreviver e formar os grandes craques (é bom lembrar que a maioria dos grandes gênios do futebol brasileiro foram formados por equipes pequenas do interior do país). Entretanto, este sistema não interessava à rede globo que queria que existissem poucas equipes consideradas grandes e, no máximo, dois clubes de massa. Assim nas transmissões 20% torceriam a favor, 80% torceriam contra, mas todos assistiriam os jogos (o que comercialmente seria mais interessante). Assim desmoutou-se um sistema vencedor e por consequência detonou-se com os clubes do interior e, gradativamente, clubes tradicionalíssimos do futebol brasileiro foram se inviabilizando ou virando meros fornecedores de promessas aos clubes do esquema (obs. me recuso a usar a classificação imposta pela rede globo de clubes grandes e pequenos, pois não consigo ver diferença de grandeza entre flamengo e sport, Corinthias e Bahia, p.ex. pois todos são times centenários com torcidas fieis) os dois primeiros apenas tiveram a sorte de estarem entre os beneficiários do esquema da globo e passaram a receber uma porcentagem desproporcional da arrecadação gerada pelo futebol (e mesmo assim, pela incompetência de suas diretorias conseguem não ganhar todos os títulos que disputam, apesar da brutal ajuda financeira e arbitral que recebem). Na época em que o futebol brasileiro era forte não havia tanta diferença de arrecadação entre os times, o que possibilitava campeonatos mais equilibrados. O Londrina chegou às semifinais do campeonato brasileiro de 1977, somente para mostrar um exemplo caseiro. A criação dos clube dos 13 e a formulação de um novo campeonato onde a classificação no campeonato estadual não tinha mais importância foi o início do fim do nosso modelo vencedor de futebol, onde a quantidade de clubes e a equidade de condições gerava a qualidade de nosso futebol. A pá de cal foi lançada sobre o nosso futebol com a mudança para o sistema de pontos corridos, quando retirou-se qualquer possibilidade dos times “fora do eixo” ganharem um campeonato brasileiro. Hoje, podemos contar nos dedos das mãos os times que tem condições reais de ganhar um campeonato brasileiro, o restante somente faz figuração. Times centenários e com torcidas imensas e heroicas como Vitória, Sport, Bahia, Náutico, Santa Cruz, Ponte Preta, Guarani, Tunalusso, Remo, Paissandu, Coritiba, Atlético Pr, etc. etc. etc. viraram meros coadjuvantes que oscilam entre as sérias A, B ou C. Outros como o nosso Paraná Clube estão a beira da insolvência. A desculpa para a mudança do modelo era tornar o campeonato mais parecido com os campeonatos europeus (só esqueceram de avisar que a Espanha, a Itália, a Inglaterra, cabem dentro da maioria dos Estados Brasileiros e o Campeonato de Clubes da Europa (que possui dimensões semelhantes ao Brasil) segue a mesma estrutura do antigo campeonato brasileiro. Entretanto, como sei que os interesses econômicos sempre serão superiores aos interesses da população, que como Eu, ama o futebol, tenho a certeza que este comentário é apenas um desabafo que jamais será considerado por quem realmente manda nessa quizomba.

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