por Sergio Brandão
Conheço um cara que usa um perfume que me incomoda muito. Tem um cheiro vulgar, destes de pensão de quarto de instante. É um cheiro forte, fica impregnado na gente quando o encontro é selado com um abraço ou com um aperto de mão.
Sabe aquele perfume do papel higiênico? Não aquele quando você usa – é o cheiro que tem quando a gente abre o pacote! É aquilo!
Demorei, mas descobri esta semelhança numa gripe. Dois dias em casa, assoando o nariz com papel higiênico, não foi difícil verificar a semelhança.
Também não demora muito pro cara ser chamado de Cheirinho. Coitado, ele é legal, gosto dele. Até tentei desviar minha atenção para outro cheiro, mas não deu: é o insuportável cheiro de papel higiênico tirado da embalagem.
Mas não é só. Isso me provocou uma pergunta: porque o papel higiênico já vem com cheiro, se mais tarde será impregnado por outro? Nunca cheirei, mas imagino a mistura dos dois… É merda com perfume barato.
Agora, toda vez que vejo o cara fico imaginando o ritual depois do banho, se enxugando com papel higiênico, no pescoço e nas axilas.
Cheirinho às vezes capricha no cheiro. Outro dia esqueceu o casaco pendurado na cadeira de casa. No começo ninguém sabia de quem era. Alguém levantou o casaco perguntando “de quem é? Tem dono”?
Nem precisei me aproximar para responder. Foi um coro só: “É do Cheirinho!”