de Ticiana Vasconcelos Silva 

Desesperos me estrangulam como cipós e formam coágulos em minha respiração, fazendo com que eu me sinta como uma abelha sem seu mel.

Sufoco minhas emoções e me embrenho em matagais cheios de armadilhas e plantas que, de tão desconhecidas, parecem me observar com desconfiança.

Mantenho-me firme e minha força faz com que minhas pernas sigam seus próprios instintos sem me perguntar para onde me levam.

Estarei lá, mesmo que minhas esperanças sejam de apenas não sucumbir mais ao pleno desejo de olhar para as marcas que estes cipós deixaram em minha alma.

Mergulharei nos matagais mais ermos e distantes deste lugar, que vai além de mim mesma, e não desviarei enquanto não souber que o desvio é apenas um sombrio ato de concupiscência que se desdobra em mil facetas ocultas e luciféricas.

A respiração é apenas um alívio que vem dos delírios que não se cristalizam e que pedem para sobreviver e, então, finalmente descansar na relva dos amores possíveis e impossíveis.

O cansaço que se produz diante deste cenário vem da dor de saber que não sabemos mais como adentrar os instantes sem nos machucar e que, por isso, faz com que nos armemos com todo nosso imaterial conjunto de delicadezas e franquezas para que nada seja vulgar ou em vão.

E tudo isso é somente uma imagem estilhaçada diante de um espelho, límpido e fugaz, que nos revela a beleza de se manter invicto diante da real beleza humana, estranha aos olhos de um Deus que se apaixonou por sua própria imagem e a guardou em seu coração selvagem.

Eu apenas ignoro que desconheço todas essas armadilhas e caminho para que a poeira que o vento trouxe para dentro dos matagais não se detenha em meus olhos e os façam enxergar os indícios de uma tristeza que sonhou ser alegre e agora é minha mais breve melancolia.

*Publicado no blog O Paradoxo do Ser (http://paradoxodoser.blogspot.com.br/)