14:35O céu é o limite

por Yuri Vasconcelos Silva

Curitiba foi preparada, em especial a partir da década de 1970, para ser de fato uma cidade exemplar. Por um período não muito longo esteve no pódio como uma das mais inovadoras do mundo, numa época em que os termos “inovador” e “sustentável” não tinham caído na graça dos marqueteiros. Curitiba tinha a capacidade de olhar os problemas através de várias lentes, propor soluções únicas e implementá-las rapidamente. Motivos políticos e problemas de gestão colocaram o planejamento criativo para dormir. A cidade perdeu a faixa de Miss Modelo. Até mesmo a inviável Nova Iorque nos provou que até as cidades mais problemáticas têm remédio, com seus programas de combate à violência ou soluções pontuais de revitalização urbanísticas espalhadas por toda metrópole. Apesar da letargia curitibana, ainda há tempo de recobrar a consciência do potencial urbanístico herdado e prosseguir com o que já foi chamado Revolução Verde aqui na Cidade Sorriso. Alguns devaneios:

O bonde retorna por cima: abandonada a idéia do Metrô subterrâneo, muito oneroso e de limitado impacto prático, Curitiba escolhe usar as já existentes e privilegiadas vias centrais das estruturais, as canaletas, para dependurar bondes aéreos em esbeltas estruturas metálicas. Mais barato que túneis subterrâneos, as linhas contam com vagões que dobram a capacidade dos atuais biarticulados e são movidos a energia elétrica, renovável. Não dependem do trânsito. Flutuam sobre ele. Por isso, são mais rápidos e frequentes. As estações são elevadas, acessíveis por escadas rolantes e elevadores. Cada uma projetada por arquitetos do Brasil e do mundo, escolhidos através de concursos.

Ciclovias nos eixos: as canaletas dos biarticulados se convertem em extensos parques lineares, sob a sombra ligeira dos bondes flutuantes. Ao longo destas linhas verdes, concessões para o comércio vicinal, como padarias, cafés, pet shops ou bares noturnos. Implantação de jardins e arboretos com espécies apreciadas na cidade. Ciclovias bem estruturadas, com sinalização e iluminação noturna eficiente, são construídas em toda a extensão de cada estrutural. Oferece, assim, uma importante opção de deslocamento diário. Seguro e sustentável. Além das academias ao ar livre e quadras desportivas, os bicicletários e serviços de locação de bicicletas estariam dispostos junto as estações do bonde, que também reservam espaço para o transporte das magrelas dentro dos vagões.

*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto

O centro é uma ilha: o perímetro do centro da cidade fechado, transformado em uma ilha para pedestres. Apenas veículos oficiais e de abastecimento têm permissão para circular em horários definidos dentro do centro. Pequenos bondinhos elétricos, bicicletas ou segways circulam e levam os pedestres aos destinos dentro do perímetro proibido ao carro. Ônibus continuam acessando, de forma direta e por vias exclusivas, os principais terminais centrais.

Região Metropolitana pelos ares: bairros e distritos distantes de Curitiba, tais como as cidades da RMC, CIC ou além, são interligados de forma direta através do transporte metropolitano em dirigíveis. Os modelos atuais são muito seguros e consomem baixa energia. Poderiam transportar passageiros em número equivalente a quatro ônibus articulados, em viagens rápidas com apenas duas paradas: o início e o fim. Nas regiões periféricas à Curitiba, as estações seriam semelhantes a campos de futebol com a estrutura necessária para recebe os passageiros. No adensado centro de Curitba, aeropontos são instalados em altas torres junto aos terminais de ônibus e bondes. A integração é total, do dirigível metropolitano à bicicleta.

As possibilidades são muitas. O artista, urbanista ou escritor sabe que para novas ideias, uma folha em branco já é um bom estímulo. O problema surge no momento em que a ideia sai da prancheta e tenta se criar na rua. Sem o adequado esforço de seus autores, políticos e moradores, a idéia pode morrer ainda broto nos papéis e rabiscos, amassados numa lixeira. Os habitantes continuam no sonho da qualidade de vida que um dia foi melhor.

Compartilhe

2 ideias sobre “O céu é o limite

  1. leandro

    O Yuri faz uma viagem no tempo e me lembra do que existia em Curitiba, com o planejamento, a inovação e a capacidade de criar e principalmente a ousadia concreta de colocar na prancheta as ideias e desta para a efetividade das ruas. Lembro que não existia nenhum Conselho para opinar, para criar casos, a coisa saia do papel lá do alto do Cabral e se transformava em realidade nas ruas. Também lembro que a mais de 10 anos não se ouve nem se ve algo de inovador e criativo acontecer na cidade. Esta viagem no tempo do Yuri nos faz lembrar do Cambio Verde, da cidade Ecológica, do Programa do lixo que não é lixo , lembram “se-pa-re”, da família folhas e de outros tantos programas na área do lazer, da cultura da circulação viária , o transporte coletivo que até hoje resiste o crescimento da idade e que não foi implantado nada de novo ou que viesse superar o sistema. Os parques, bosques e um , unzinho só dos programas sociais que Curitiba colocou em prática que foi o Vale Creche a aí não me permito deixar de citar neste caso a Fani Lerner, com simplicidade e bravura fez acontecer. Bem deixo para outros falarem o que pensam e é claro que terão aqueles que nem sabem do que foi e como foi Curitiba dos anos 70 para cá e como foi feito e assim com certeze alguns vão criticar , mas deixo para que a história seja acompanhante desse momento e registre aquilo que não se pode apagar. Parabéns Yuri, nem o conheço mas fez com que eu voltasse no tempo junto com todos que participamos da transformação dessa nossa cidade.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.