11:03O homem que não sabe nada

por Yuri Vasconcelos Silva

Professor Dr. H. Caulfield, com três pós-doutorados pelo MIT em matérias incompreensíveis e talvez irrelevantes, explica a uma diversificada platéia sobre todos os assuntos.

Carmen pergunta:
– Professor, por que sinto atração por outros homens, ainda que ame meu marido e família?

– Em termos biológicos, você é escrava de seu script denominado DNA. Nele está escrito que deverás sentir e agir em prol da perpetuação de seu código genético. Isso se traduz na meta de se reproduzir com aqueles que, numa operação inconsciente da mente, considera os mais capazes de fornecer bom material genético e proteção à família. Conhecemos este mecanismo como atração sexual. Paixão. Reprimir a atração em nome de uma convenção social seria antinatural. Como vivemos em sociedade, tal repressão nos trouxe vantagens evolutivas. Portanto, é prudente seguir a convenção social. Já o amor é um fenômeno mental, que surge espontaneamente de maneira ainda misteriosa. Estamos buscando respostas em aceleradores de partículas, distantes galáxias e poemas inspirados.  O amor é mais valioso que paixão. Pode ser compartilhado de forma horizontal, expandindo-se entre os seres, e de forma vertical, passando de pais para filhos e netos, através do tempo, produzindo felicidade sem qualquer condicionamento. Carmen, se queres trair, faça escondida sem que ninguém saiba. Se queres amar, faça-o em público e distribua ao máximo de pessoas possíveis.

Ulisses pergunta:
– Doutor Caulfield, como podemos ter certeza que tudo isso começou numa grande explosão?

– Primeiro devemos ter cuidado com as certezas. Nunca se deve ter certeza de nada, pois nosso conhecimento está assentado sobre um piso movediço, referencias em constante mutação. Somente tolos têm certeza. Dito isso, o que sei hoje é derivado de duas importantes ferramentas da ciência. Teoria e observação. A teoria nasceu de mentes privilegiadas que, graças a uma boa dose de imaginação, formularam cenários e os traduziram em fórmulas de matemática – a lingua que universo fala. A grande explosão surgiu como uma teoria, entre outras tantas, científicas ou místicas. No entanto ela passou a ter maior credibilidade e visibilidade quando Edward Hubble, ao apontar seus instrumentos para distantes estrelas, percebeu o fenômeno “desvio para o vermelho”. Objetos luminosos que se afastam de forma acelerada parecem ser avermelhados, da mesma forma que uma sirene de ambulância que se aproxima e depois se distancia parece ter mudado a frequência para mais grave. No caso do som, chama-se Efeito Doppler. Hubble concluiu então, após várias observações e cálculos, que se hoje tudo no universo se distancia aceleradamente, ao revertermos o tempo, tudo era mais próximo. Até chegarmos ao tempo zero, quando o universo todo se resumia a um minúsculo e indecifrável ponto de densidade e temperatura infinitas. Esta teoria foi confirmada século passado, com a detecção de uma leve onda de calor que permeia cada recôndito deste escuro e implacável universo. Seria como o ar morno que ainda flagramos muitas horas depois no forno de nossa avó, que imediatamente nos sugere a maravilhosa possibilidade de tal forno ter sido aquecido a mais de 100ºC para assar um strudel horas atrás. A radiação de fundo cósmico sugere fortemente uma explosão e altas temperaturas por toda parte há 14 bilhões de anos. O big bang.

Jorge pergunta:
– Dr. Caulfield, o que você acha da situação política e econômica do Brasil hoje?

– Não enche.

*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto

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Uma ideia sobre “O homem que não sabe nada

  1. leandro

    Bem interessante a matéria, lembro que aqui no Brasil tem uma pessoa que se notabilizou por não sabe de nada e aind fica bravíssimo quando perguntam sobre os problemas do país, mas o nome dele não é sequer parecido com o da matéria, parece que é luiz qualquer coisa.

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