8:31Vício eleitoral

por Janio de Freitas

As expectativas, bastante difundidas, de turbulências eleitorais nesta semana depõem contra o processo eleitoral brasileiro. Não só confirmam a participação sistemática, no confronto das candidaturas, de fatores alheios à natureza política e programática das eleições presidenciais, como indicam que a percepção destes fatores não leva a contê-los.

São comuns as referências, como fatos dos próximos dias, a novos e tumultuosos vazamentos de acusações, reais ou não, feitas pelo corrupto da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e pelo doleiro Alberto Youssef sob alegado segredo de Justiça. Não por acaso, uns lembram que ainda sairá uma edição de “Veja” antes da votação, e quando nem haverá tempo para contestações eficazes. Outros citam o debate organizado pela TV Globo, na quinta-feira (2).

Haja ou não participação nova daqueles dois personagens relevantes da campanha eleitoral, a expectativa de novas contribuições suas depõe não só contra o processo eleitoral, mas também contra a imprensa e as emissoras. Em todas as eleições, a dimensão eleitoral dos fatores extracampo depende do sentido, da relevância e da indumentária de confiabilidade que a chamada mídia lhes atribua. Uma bolinha de papel na cabeça de José Serra poderia ser apenas isso mesmo, não fosse sua transfiguração em um rolo rígido de fita crepe que lhe causou, no exame por um amigo, impacto perigoso. Isso, para não entrar em exemplos mais fortes, muitos bem conhecidos desde a vitória dada a Collor.

No processo eleitoral de agora, é interessante a ideia de libertação de Paulo Roberto Costa nesta última semana da campanha, como noticiado. Até por –e quase escrevo sobretudo por– favorecer também mais vazamentos de suas premiadas confissões.

Quando passar a utilidade do corrupto da Petrobras e de Alberto Youssef, que logo estarão em casa a desfrutar de suas fortunas, talvez se possa discutir, ao menos, o que a delação premiada é e o que, no máximo, poderia ser sem desmoralizar a já precária ideia de Justiça e a honestidade.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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