7:09Um adeus a Mauro Nóbrega Pereira

por Célio Heitor Guimarães

Acabo de saber do falecimento, nesta quinta-feira 25.09, do Dr. Mauro Nóbrega Pereira, advogado de nomeada na comarca de Curitiba e uma das figuras humanas mais notáveis que conheci. A notícia causou-me profundo pesar. Dr. Mauro era um dos meus tipos favoritos e eu o queria bem, tanto quanto quero bem dona Maria de Lourdes, sua companheira de vida por mais de 60 anos, seus filhos e netos. Às vezes, sentia-me membro da sua família. Mas suspirei aliviado. Mauro Nóbrega Pereira amargava mais de vinte dias de UTI em um dos hospitais da cidade, com problemas respiratórios e outras infecções destruidoras, sem condições de recuperação, e não merecia tanto sofrimento.

Como advogado, em longo tempo de atividade constante, Dr. Mauro honrou a profissão. Foi sempre o que se pode chamar de “advogado à moda antiga”, uma preciosidade quase extinta hoje em dia, aquele profissional que, antes de aceitar uma causa e definir os honorários, recebe o cliente, toma conhecimento do caso e passa a examiná-lo com extremo cuidado. Vai aos livros, confere a doutrina e a jurisprudência, avalia as possibilidades e vale-se de sua imensa experiência. Se assume a demanda, o cliente não poderia estar em melhores mãos. Tem enormes chances de vitória. E jamais será explorado por isso. Dr. Mauro era devoto de Santa Terezinha, mas costumava cobrar honorários franciscanos.

Não obstante, era firme e destemido na lida do Direito. É célebre o episódio em que, cansado da protelação mantida pelo juiz, que se esquivava de sentenciar o feito através de repetitivos despachos de “diga o autor” e “diga o réu”, não teve dúvida. Ao receber o processo, pela terceira vez consecutiva, para dizer, como procurador do autor, lançou nos autos com precisão certeira: “O autor e o réu já disseram tudo o que tinham a dizer e agora esperam que V. Exª. diga alguma coisa”.

Como ser humano, Dr. Mauro era igualmente admirável. Sério, decente, honrado e humano, indignava-se com as injustiças do mundo e fazia o que podia para diminuí-las. Ainda que com o exemplo pessoal. Não era um homem de grandes ambições, nunca visou riqueza e jamais se afastou da simplicidade que herdara dos pais, caiçaras humildes de São Francisco do Sul, norte de Santa Catarina, onde nasceu. No entanto, era um homem de princípios bem definidos, incapaz de transigir um milímetro sequer em coisas fundamentais, como a probidade, o cumprimento da lei e a procura da Justiça.

Vícios? Tinha bem poucos. Além do Paraná Clube (desde os tempos de Ferroviário), a família, o cachimbo, uma terrinha que mantinha nas proximidades de São Bento do Sul (SC) e as pescarias com os amigos lá pelas bandas do Pantanal matogrossense.

Mauro Nóbrega Pereira tinha 86 anos. Deixou quatro filhos, vários netos, muitos amigos e uma saudade imensa em nossos corações.

Foi, sobretudo, um exemplo de vida.

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