por Roberto Bertholdo

É muito triste sermos parte de um país onde a maior parcela de nosso patriotismo e orgulho se manifesta apenas pelo futebol. Embora eu não me inclua nesse grupo, boa parte da nossa população tem complexo de vira-latas e constantemente fala mal de nós mesmos e de nosso país. Temos sim muitas deficiências, mas acima de tudo temos qualidades. Apesar de inúmeros e sucessivos governos ruins e que não planejam nosso futuro como deveriam planejar, temos crescido e melhorado a cada ano que passa. Eu sinto orgulho de nossas riquezas naturais, de nossa geografia, de nossa natureza. Admiro a força de trabalho da grande maioria de nosso povo. Frequentemente me emociono com a nossa exemplar índole solidária. Sou fã de nosso calor humano e da nossa capacidade de adaptação. Sou apaixonado pela nossa arte, pela arquitetura, pelo nosso design, por nossa pluralidade racial. Nossa engenharia e nossa medicina são de primeiro mundo. Orgulho-me de sermos os maiores produtores de grãos, de carne bovina e suína do mundo. O maior produtor de minério de ferro. Em brave seremos um dos maiores produtores de petróleo.Temos uma indústria pujante. Um empresariado que, infelizmente, na sua maioria é desrespeitado, mas que luta. Amo verdadeiramente nosso futebol, especialmente nossa seleção. Detesto nossa quase generalizada hipocrisia e falso moralismo. Abomino, em especial, a hegemônica mídia que intencionalmente desvaloriza nossos jornalistas que acabam, sem saber, deseducando nossa população, sendo muito responsável e também conivente com nossos fracassos. Acho criminosa nossa incapacidade de dar valor aos nossos professores e ao planejamento educacional. Detesto nosso complexo de coitadinhos e nosso “jeitinho brasileiro” que é uma má educação de quase todos nós, adquirida, infelizmente, há 500 anos, desde nossos colonizadores. Repudio esse majoritário sentimento de inferioridade que a maioria dos brasileiros possui. Assim penso, pois desejo um país grande e melhor e com um povo com toda dignidade e cidadania que merece. O que aconteceu no Mineirão foi obra da conjunção de falta do planejamento com um acidente, mas com a conivência dos poderosos da comunicação. O que passou jamais seria motivo para sentirmo-nos menores. Foi mais ou menos como dirigir bêbado, em altíssima velocidade, numa pista molhada e num carro sem nenhuma manutenção. Tinha mesmo que dar merda. Quem entende de futebol sabia disso. O talento do brasileiro no futebol ainda é insuperável. Faltou planejamento e organização, só isso e nada mais. Ah, me enganei… também faltou torcida. Só havia rico nos estádios, só aqueles que podiam pagar muito caro pelo ingresso. Gente que nunca havia ido a um campo de futebol e que, portanto, não sabia torcer. Em nenhum dos jogos conseguiu empurrar o time. Aqueles que frequentam os estádios desde pequenos sabem exatamente do que estou falando. Que a catástrofe de Belo Horizonte sirva de motivação, lição e exemplo para cada um de nós levantarmos todos os dias com a certeza de que somente o planejamento e o comprometimento, seguidos do esforço e do trabalho, serão capazes de modificar o que ainda está incompleto, daquilo que não está acabado ou mesmo está errado. Viva o Brasil e os brasileiros. Inclusive o Felipão. Tenhamos orgulho de sermos brasileiros, apesar do resultado desta Copa. Já o Marin… que fique no passado, lugar de onde nunca saiu.