Em União da Vitória (PR), o menino Kaíque no que sobrou da sua casa inundada pelas águas do Rio Iguaçu depois da enchente recente. Ele não pode legislar em causa própria. Nem sabe o que é isso. Mas ele pode sonhar – e é essa a sua fortuna, o seu alimento da alma, o que o faz se superar na dureza do seu dia-a-dia. Kaíque joga bola, veste a camisa da seleção com o número que já foi de Pelé, Zico e agora é de Neymar, meninos pobres como ele que saíram dos guetos da pobreza para fazer fama e fortuna por seus próprios méritos. Os méritos de quem tem talento e, principalmente, de quem cuidou dele e foi atrás dos sonhos. Kaíque é mais um entre milhões de brasileirinhos que nem sabem ainda o quanto há de injustiça nessa terra de poucos privilegiados e muitos injustiçados. Mas nessa casa aí, na verdade um barraco, as águas baixaram, algumas coisas foram salvas e ele e os seus estão vivos, o que é bastante coisa para quem não tem quase nada em bens materiais. Ele não tira a camisa da seleção brasileira, porque é muito mais brasileiro do que alguns que, da boca pra fora, batem no peito como defensores do povo contra as injustiças, enquanto enfiam a mão no dinheiro que, provavelmente, poderia abrir uma trilha para que crianças como Kaíque saíssem dos guetos da pobreza material e de conhecimento para ter uma vida digna e honesta. Por trás da angústia, contudo, há esperança. Assim escreveu um poeta, que completou afirmando que é preciso acreditar nisso para não enlouquecer. Nosso camisa 10 é a própria imagem disso, num país tão bonito e ao mesmo tempo tão feio.
Foto de Rogério Machado
Que maravilha de texto, Zé!!!! A grandeza da sua sensibilidade é ilimitada. As vezes nos tiram gargalhadas e as vezes nos emocionam. Parabéns, isso é pra poucos.
Texto e Foto Maravilhosos!!!!