7:01Um partido em liquidação

por Ivan Schmidt 

Ainda está por decidir se será no dia 15 ou 20 desse mês que a convenção estadual do PMDB escolherá o parâmetro a seguir na eleição de 5 de outubro para o governo do Estado. Há hoje sobre a mesa três propostas: candidatura própria, apoio à candidatura petista da senadora Gleisi Hoffmann ou apoio à reeleição do tucano Beto Richa.

Dois políticos importantes do PMDB – Roberto Requião e Orlando Pessuti – ambos ex-governadores disputam palmo a palmo, ou voto a voto, a primazia da candidatura própria, ficando completamente desconsiderada a possibilidade de um apoiar o outro, mesmo diante da iminência de liquidação de um patrimônio político invejável.

Requião, pela própria natureza e idiossincrasia, jamais daria apoio à proposta de fechar com Beto Richa, a rigor, seu antípoda na política local. No caso de apoio à candidatura de Gleisi, o senador talvez se sentisse à vontade até porque alianças entre PMDB e PT não chegam a ser novidade em eleições recentes para o governo estadual e prefeitura de Curitiba. Um detalhe: nas coligações para o governo o PMDB sempre figurou como majoritário na chapa, mudando a mão nas eleições municipais, quando cabia ao PT a indicação do candidato, que não obstante perdeu sempre.

Já o ex-governador Orlando Pessuti, mais pragmático que Requião, não teria grandes obstáculos em pedir votos para Beto Richa, se for verdadeira a conjectura de que poderá ser candidato ao Senado (com a recíproca do governador), presidente da Sanepar ou ter o nome novamente indicado para o Tribunal de Contas. Também não seria carga insuportável para o ex-governador atrelar-se ao esforço eleitoral de Gleisi Hoffmann, provavelmente em troca dos mesmos afagos e prebendas.

O deputado Luiz Claudio Romanelli, oráculo do embarque peemedebista na campanha de Richa (na Assembleia ele atua como líder informal do governo), é o autor da proposta de antecipação da convenção estadual para o dia 15, um domingo, ao invés do dia 20, a sexta-feira posterior ao feriado de Corpus Christi. Sua alegação é que o feriadão poderia interferir negativamente no deslocamento de muitos delegados com direito a voto na convenção, prejudicando todas as tendências por igual.

Enquanto não se resolve essa questão de somenos, Romanelli brada aos quatro ventos que a tese vitoriosa é exatamente a que ele e a maioria dos integrantes da bancada estadual defendem vigorosamente: o apoio à reeleição. Diz o deputado que a tese da bancada tem número suficiente de convencionais para torná-la vencedora, inclusive com dois declarados pré-candidatos a vice-governador, o deputado federal Osmar Serraglio e o estadual Caíto Quintana.

Depois que o presidente nacional licenciado do partido, o vice-presidente Michel Temer, confirmou a indisposição de intrometer-se em questões internas dos diretórios regionais, Romanelli e os demais defensores da aliança com o PSDB (no Paraná, atualmente dominado por antigos membros da Arena/PFL), passou a falar cada vez mais alto, tendo em vista que as duas outras correntes mostraram-se visivelmente desnorteadas.

Há quem diga que o voluntarismo dos deputados à reeleição do governador é estimulado pelo justificado temor de não obter votos suficientes para um novo mandato. Esses senhores conhecem as manhas da política com elevado nível de acerto. Em contato diuturno com prefeitos das regiões que representam, com os vereadores, servidores nomeados com sua interferência, cabos eleitorais e dirigentes de associações comunitárias, sabem rigorosamente quantos votos são capazes de obter em cada seção eleitoral.

Claro que esse domínio da perspectiva eleitoral é tanto mais factível quando o deputado pode ser apresentar como aliado do governo, seja qual for a circunstância. Há anos atrás, cobrindo uma campanha como a que se avizinha, ouvi o então deputado Kielse Crisóstomo da Silva afirmar em cada município visitado no extremo Noroeste: “Deputado bom é aquele que está sempre com o governo”. Foi reeleito com tranqüilidade e esse conceito ainda não mudou.

Para alguns deputados do PMDB de hoje a sombra da derrota somente poderá ser espantada se saírem a pedir votos provando que estão ao lado do governador Beto Richa, que é favorito à reeleição e nada tem a opor aos apoios que recebe. Aliás, eles são muito bem-vindos, pois poderão compensar em parte a débil gestão até aqui realizada.

Mais uma vez vale refletir sobre a verossimilhança das informações recolhidas pelos deputados junto a seus colaboradores no interior.

Torna-se, assim, elementar a percepção de que fosse outro o quadro os deputados do PMDB fugiriam do apoio a Richa, como o diabo da cruz, caso as informações dessem conta de que a reeleição estivesse a perigo. Que razões levariam o grupo a arriscar a permanência na política seguindo um candidato sem chances de ganhar?

Portanto, dentre as macambúzias constatações que o PMDB oferece nesse contexto, a mais lamentável é que não mais dispõe no Paraná de um nome à altura de suas mais nobres tradições. Na véspera da eleição para o governo do Estado, o partido que ocupou essa função com José Richa, Álvaro Dias e Roberto Requião (três mandatos), totalizando 20 anos à frente do Executivo desde 1983, hoje se debate internamente numa guerra de babuínos pela indicação do candidato a governador.

Bela homenagem a homens públicos eminentes que já vestiram a mesma camisa em tempos não tão remotos: Sílvio Barros, Wilson Moreira, Olivir Gabardo, Maurício Fruet, Enéas Faria, Walmor Giavarina, Mugiatti Sobrinho, Alencar Furtado, Euclides Scalco, Deni Schwartz, Nivaldo Krieger, Hélio Duque, Nelton Friedrich e Amadeu Geara, para citar uns poucos.

 

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Uma ideia sobre “Um partido em liquidação

  1. sergio silvestre

    Me admira o deputado Cheida,eleito pelo PT prefeito de Londrina,meu preferido para quem sempre dei meu voto e o que mais dói e ver como eu estava sendo enganado.
    É um politico igual a tudo que a de ruim na politica,com esse fisiologismo desacerbado,com essa ganancia de acertar a vida dos seus pares,mesmo que aquele apoiado seja um reles administrador.
    Joga toda sua história de lado,da uma guinada para os mesmo e deixa corados de vergonha seus eleitores mais antigos.
    Talvez ainda possa se eleger através de uma coligação com os votos daqueles que os conhecem pouco.
    Mas o sr Cheida,Romanelli,Stephanes e o maior deles.sr Pessuti,estão dando uma demostração de como a politica é suja,de como são feitas as negociatas onde o politico come na mão de uns vendilhões que para se dar bem renunciam a seus ideais para serem vassalos de governos corruptos e medíocres.

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