8:21Núcleo político de Dilma é inábil, diz Vargas

por Fernando Rodrigues, no UOL

O deputado federal André Vargas (PT-PR), primeiro vice-presidente da Câmara, criticou ontem numa mesma entrevista a atuação dos chefes do Poder Executivo e do Poder Judiciário.

Estrela em ascensão no PT, Vargas, 50 anos, disse em entrevista ao programa Poder e Política, da Folha e do UOL, que “tem havido um pouco de inabilidade do governo” para negociar com o PMDB um acerto que acomode esse aliado na reforma ministerial promovida pela presidente Dilma Rousseff.

Indagado sobre quem é inábil, Vargas aponta o “staff político” do Palácio do Planalto, hoje comandado pela ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e pelo ministro da Casa Civil, o recém-nomeado Aloizio Mercadante.

Por que haveria essa inabilidade política do Planalto? “Acho que nós temos uma articulação ainda ineficiente, e quando digo isso assumo a responsabilidade”, responde o deputado. Mas por que a articulação é ineficiente e por que a presidente não introduz mudanças? “Aí é uma questão da presidenta. Ela toma as decisões. Não me parece que é uma questão de nomes; me parece mais uma questão de estilo. Nós, parlamentares, não somos acionados para ajudar nessa interlocução”, reclama o petista.

Esse ruído entre os congressistas e o Palácio do Planalto tem sido comum desde o início do mandato de Dilma Rousseff, em 2011. No momento, há um clima ruim pelo fato de estar em curso um processo de reforma ministerial –muitos deputados e senadores sentem-se desatendidos pela presidente.

Consultado pela reportagem, o Palácio do Planalto não quis comentar as declarações de André Vargas.

Durante a entrevista, o deputado falou sobre seu gesto de erguer o braço com o punho cerrado quando estava sentado ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, na sessão solene de abertura do Congresso no último dia 3. Para o petista, sua atitude foi “um direito de opinião”. Negou ter a intenção de ofender o magistrado.

Mas André Vargas fez duras críticas ao presidente do STF, que teria cometido “um equívoco grande” ao ter revogado nesta semana uma decisão do ministro Ricardo Lewandowski sobre um pedido de José Dirceu, réu do mensalão que deseja autorização para trabalhar fora do presídio durante o dia.

Lewandowski havia determinado que o pedido de autorização para trabalho externo fosse analisado com urgência. Barbosa suspendeu o processo. “O ministro Joaquim Barbosa não aposta na unificação do Poder. Estou dando minha opinião. Ele não está à altura de ser presidente de um Poder. Não se comporta como presidente de um Poder. Ele se comporta como um ministro polêmico, o ministro que mais divide do que une”, declarou André Vargas.

Procurada, a assessoria de Barbosa disse que o ministro não comentaria os ataques de Vargas.

A seguir, trechos da entrevista:

Folha/UOL – No dia em que o Congresso reabriu os trabalhos neste ano, na sessão solene e ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, o senhor fez um gesto com o punho cerrado. O sr. também trocou mensagens pelo celular, numa delas falando sobre dar uma “cotovelada” em Barbosa. O que se passou?
André Vargas – Realmente isso ocorreu. Não foi nada pensado. Foi apenas um cumprimento. Não era nada “estou provocando o cara”, “foi um sinal para ele”. Jamais faria. Seria talvez até uma molecagem. Mas era um cumprimento. E é um cumprimento cada vez mais comum no PT.

De cerrar o punho?
O primeiro a ser preso [por causa do julgamento do mensalão] foi o José Genoino, que na minha opinião é o maior símbolo dos excessos de Joaquim Barbosa. O Genoino foi preso, constrangido, com problema de saúde. Não se sabe se fica domiciliar ou não. Virou uma polêmica a questão da aposentadoria dele no Congresso. E o Roberto Jefferson que também tem um problema de saúde grave, que também deve ser tratado com humanidade, está sendo tratado de forma absolutamente diferente em relação ao Genoino. São duas histórias, e o ministro Joaquim Barbosa nitidamente, às vezes aparentemente de forma cínica, vai postergando a decisão em relação ao Roberto Jefferson. Ele tem uma pena para ser cumprida tanto quanto o Genoino. Esse gesto é comum nos atos de resistência.

O gesto do punho cerrado então foi…?
Quase um símbolo… É um ato político. Mas para companheiros. Não era um ato político para o Barbosa.

E as mensagens via celular, que acabaram aparecendo em fotografias?
Era uma pergunta.

Na verdade me perguntaram “Você já cumprimentou ele?”. Eu falei “Não”. “Você não vai falar com ele?”, eu falei “Não.” “Mas ele vai prender o João Paulo Cunha?”.

Na verdade não era um colega ali naquela mensagem. Era um jornalista que eu não vou falar o nome. Uma jornalista. E aí eu pergunto: vou falar o quê? Perguntar o quê? Aí [eu pergunto] “dá uma cotovelada?”. Não era a vontade de dar uma cotovelada porque eu não acho que é assim que se faz política.

O ministro Joaquim Barbosa, quando ele desce às polêmicas, ele também se sujeita ao embate político. Por exemplo, ele já chamou o Congresso de “submetido ao Executivo”. Já chamou os partidos de “mentirinha”.

Mas a sua atitude naquele dia era apropriada dentro do Congresso?
Sim. Isso é um direito de opinião.

O Joaquim Barbosa não se dá o respeito. Ele se mete em questões e faz julgamentos e pré-julgamentos e ataques. Logo depois dos punhos cerrados ele colocou em julgamento dois casos do PT. O Zeca Dirceu e Lindbergh. Será que não tem nada mais para colocar em pauta?

Mas esses julgamentos estavam pautados antes do episódio do punho cerrado…
Ah, já estavam? Pois é. Mas é que a fotografia…

Mas o ânimo dele e do próprio Gilmar Mendes contra o PT é evidente. Nós não estamos nos fazendo de vítimas.

Por que eles estariam fazendo isso?
O Gilmar Mendes deve ter seus motivos. Acredito que aquela questão lá da CPI do Cachoeira onde se falava que ele poderia ser chamado, tinha um ruído muito grande. Depois ele trouxe à tona que o presidente Lula teria estado com ele e pedido aquelas coisas [sobre o julgamento do mensalão]. Naquele momento teve uma inflexão muito pesada. Desde então o ministro Gilmar Mendes tem olhado para o PT de forma muito severa. Essa última movimentação dele foi ruim [colocando em dúvida a capacidade de petistas condenados arrecadarem altas quantias via internet para pagar multas do mensalão].

Por isso o presidente Lula colocou nesses termos [O ex-presidente falou recentemente que os ministros do STF que desejam fazer política devem se apresentar mostrando a cara e entrando para um partido]. Nem pode ser diferente. Nós temos uma democracia. O Congresso Nacional é eleito. Não tem ninguém nomeado ali.

O ministro Joaquim Barbosa nesta semana revogou uma decisão de um colega, Ricardo Lewandowski, no caso do ex-ministro José Dirceu, que desejava urgência num pedido para trabalhar fora do presídio durante o dia. O que o senhor achou dessa decisão do ministro Joaquim Barbosa?
Não sou advogado, mas me parece uma atitude que não é comum. Mais uma daquelas que está fora da curva e que poderia ter sido feita de outra forma. Poderia se levar ao pleno, como se faz normalmente. Aumenta a temperatura.

Porque se acontece com o Lewandowski, acontece com qualquer outro em determinado outro momento. Eu acho que é um equívoco grande, uma tensão grande. O ministro Joaquim Barbosa não aposta na unificação do Poder. Eu estou dando minha opinião. Ele não está à altura de ser presidente de um Poder. Ele não se comporta como presidente de um Poder. Ele se comporta como um ministro polêmico, o ministro que mais divide do que une.

Ele foi indicado pelo ex-presidente Lula que é do seu partido…
Quando você assiste ao filme “Pelé eterno”, que mostra as boas jogadas do Pelé, você fica mais impressionado ainda com o grande jogador que foi o Pelé.

O Lula, as cenas que vêm à mente são os acertos. Mas esse [nomeação de Joaquim Barbosa para o STF], na minha opinião foi… Não um equívoco, porque depois que você nomeia o ministro do Supremo ele se institucionaliza.

Mas é estranho realmente que alguém nomeado pelo governo do PT tenha esse ânimo contra um partido. Ao final das contas, na minha opinião, o Joaquim Barbosa está canalizando as energias não só daqueles que não gostam do PT, mas daqueles que não gostam da política. Tem um segmento da sociedade que acha que a política é o mal. Que político é tudo isso. Que político é tudo ladrão.

Tem até adesivos que vemos em carros: “Odeio políticos do Brasil”. Até que um dia perguntei para um cidadão: “E os dos Estados Unidos, você gosta? E os da Europa, você gosta?”.

O Joaquim Barbosa acaba canalizando essa energia da antipolítica, do conceito moralista, aquele que está acima da realidade.

O PMDB, aliado ao governo federal, tem reclamado por se sentir desatendido na atual fase da reforma ministerial. Há algum problema entre o PMDB e o PT?
Não é o PMDB e o PT. É o PMDB e o governo.

É claro que o governo, sendo de uma petista… Nós, do PT, temos uma ótima relação com o PMDB no Congresso. Uma ótima relação com o PMDB no Senado.

Ocorre que o PMDB é um partido grande. Se o PT fosse o partido aliado também teria as divisões -qual grupo foi atendido, qual grupo não foi atendido. E me parece que está havendo um pouco de inabilidade do governo.

De quem, da presidente Dilma Rousseff?
O staff político.

Mas ela é quem dá as ordens… A gente ouve falar que ela manda muito.
Eu também já ouvi falar [risos]. Me parece que…

Ela tem responsabilidade?
Todos temos responsabilidade. Todos temos que construir a melhor relação com o PMDB. Porque o PMDB é um partido importante e tem o vice-presidente da República. Tem uma chapa. Vai ter dois candidatos, a Dilma e o Michel [Temer].

Mas por que o PMDB tem reclamado? Sobretudo a ala da Câmara dos Deputados do PMDB…
Eu convivo, pelas minhas funções, com o PMDB da Câmara. Muito cotidianamente. A queixa do PMDB é de que eventualmente seus nomes não estavam sendo atendidos. A exigência em relação aos seus nomes era demasiada. “Ah, esse não serve, aquele não serve”.

Mas o que que está acontecendo com a articulação?
Acho que nós temos uma articulação ainda ineficiente, e quando digo isso assumo a responsabilidade.

Por que é ineficiente? Por que a presidente não opera uma mudança nisso?
Aí é uma questão da presidenta. Como você disse, ela toma as decisões. E não me parece que é uma questão de nomes, me parece mais uma questão de estilo. Nós, parlamentares, não somos acionados para ajudar nessa interlocução.

A presidente da República costuma ligar para os senhores?
Não, não acontece.

Acesse a transcrição completa da entrevista

A seguir, os vídeos da entrevista (rodam em smartphones e tablets):

1) Principais trechos da entrevista de André Vargas (4:48);

2) Time político de Dilma é inábil, diz André Vargas (1:41);

3) Barbosa não está à altura do STF, diz André Vargas (1:36);

4) Gesto anti-Barbosa é direito de opinião, diz André Vargas (1:26);

5) Black bloc beira o crime, diz André Vargas (1:57);

6) ‘Se STF proibir dinheiro de empresas, não tem campanha este ano’ (2:05);

7) Quem é André Vargas? (1:10);

8) Íntegra da entrevista com André Vargas (56 min.);

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