6:42Pregoeiro do deserto

por Ivan Schmidt

 

Em busca de apoios para cacifar sua ansiada candidatura à presidência da República pelo PSDB, José Serra estará nessa segunda-feira (11) em Curitiba, onde fará palestra na sede da Associação Comercial do Paraná. Ele decidiu percorrer o Brasil, da mesma forma que já estão fazendo Aécio Neves e Eduardo Campos.

No caso específico de Serra, mesmo não sendo candidato, a estratégia é manter viva a imagem de político com crédito entre as classes altas da sociedade, porque num momento inesperado da pré-campanha seu nome poderá ser lembrado como uma boa opção do liberalismo.

Aliás, Serra não está de todo equivocado (como muitos poderiam pensar), porque íntimo conhecedor das entranhas de seu partido sabe como ninguém, que a agremiação sofre da incapacidade congênita de construir uma estrutura partidária suficientemente galvanizada e forte para definir com a antecedência necessária quem será, efetivamente, o candidato presidencial.  O próprio Aécio Neves, que para todos os efeitos é o virtual candidato tucano, até esse momento também não fez nenhum gesto concreto no sentido de se fazer reconhecer ou se apresentar como cabeça da chapa tucana.

Dia desses falou da conveniência de chancelar logo a chapa pura da democracia social, com o senador Aluísio Nunes Ferreira na vice-presidência. Mas, como bom mineiro argumentou que se a decisão ficar para o ano que vem, não há o menor problema. Por seu lado, a conexão Eduardo Campos e Marina Silva, ao sair na frente, produziu os resultados esperados e, além de ocupar largo espaço nos jornais, também atraiu a atenção de pesos pesados da economia nacional. Três ex-ministros de Lula (José Viegas, Luiz Furlan e Roberto Rodrigues) são contados como conselheiros da campanha do neto de Miguel Arraes.

Esses e outros nomes com plena aceitação no cenário econômico dão credibilidade ao governador pernambucano, o mais bem avaliado do país, embora seu estado ainda continue a se debater com índices sofríveis de desenvolvimento humano, não por sua culpa exclusiva, mas pelos longos anos de atraso político a que esteve submetida toda a região nordestina.

O desafio do governador é grande e a conjugação com Marina Silva, que a meu ver será uma excelente companheira de chapa, captará enorme contingente de eleitores jovens e os integrantes dos movimentos sociais de defesa do meio ambiente, que sempre são importantes pela extensão do barulho que produzem.  Há que se considerar também a raiz propriamente dita da Rede Sustentabilidade, assentada exatamente nas redes sociais, onde acertadamente a ex-senadora foi garimpar uma força política de extraordinário calibre, que jazia sem que ninguém tivesse despertado para sua relevância.

O cuidado que Campos e Marina devem tomar nessa fase de consolidação da imagem de políticos que buscam o novo, é não se desviar para o debate inútil sobre as diferenças existentes entre ambos, a cada momento, lembradas por analistas  políticos, como suposto fator de impedimento de uma campanha que poderá levar a eleição de 2014 para o segundo turno. Nesse aspecto, não é gratuita a preocupação de Lula com o incômodo causado pelo provável fortalecimento da candidatura socialista, que na verdade poderá se robustecer como fator de aglutinação dos partidos que acabaram perdendo espaço na base governista.

Atualmente é notório o clima de descontentamento e mesmo de infidelidade no arco partidário de apoio ao governo, a bem da verdade dividido entre votos cativos da fisiologia e os coerentes com compromisso político elevado, coisa rara no Brasil. Na época da Constituinte o próprio Lula concluíra que o ambiente do Congresso era dominado por “picaretas” (chegou a entregar o número), condição que parece ter se agravado com o passar do tempo, ao longo do qual o partido da estrela fez por merecer um pós-doutorado na arte da empulhação.

Não é aí que Campos vai recrutar os reforços necessários para sua campanha, ele que em boa hora folgou com a debandada dos pernósticos irmãos Cid e Ciro Gomes, hoje magnânimos fundadores do Pros, um dos partidos criados sabe-se lá de que maneira, mas já contabilizado pela presidente da República como nova sesmaria de seu infindável território político-partidário e a ser premiado com o Ministério da Saúde.  A prenda será entregue ao governador Cid Gomes que está impedido de disputar novo mandato, em reconhecimento a sua verbosa fidelidade ao Planalto.

É nesse panorama ainda nebuloso que José Serra, agindo como um pregoeiro no deserto faz ouvir sua voz serena, mas firme, de crítico das insensibilidades do governo. Algo que conhece bem porque já esteve lá…

 

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2 ideias sobre “Pregoeiro do deserto

  1. leandro

    É melhor ouvir Serra pregando no deserto do que ver e ouvir LULA falando asneiras num oásis.

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