12:14A graça do futebol

por Sergio Brandão

 

Assim como muitos, acompanhei a cidade que ontem foi dormir mais tarde. Comecei a noite na rua, mas não via a hora de chegar em casa e ligar a tevê. Antes, já no carro, olho para o relógio e vejo que o jogo já começou. Penso: se sair algum gol ouço o foguetório. Era melhor do que ligar o rádio. Acho o futebol muito tenso no rádio, muito exagerado e, às vezes, mentiroso. Como minhas emoções estavam à flor da pele, decidi me poupar.
Finalmente, com a ajuda do trânsito, chego em casa, guardo o carro, corro para o armário e visto a camisa do meu time. Ligo a tevê e passo o olho no canto esquerdo superior da tevê. Vejo o placar 0X0. O coração bate mais forte. O Grêmio é um time copeiro, como dizem, e o Atlético busca a passagem histórica para a final da Copa do Brasil.
Meus conhecimentos futebolísticos brigam com meu coração. Eles não conversam mais. Decido sentir pelo que vejo: o Grêmio ataca, mas sem muito perigo. O Atlético tem uma zaga forte, acertadinha. O resto do time também é bom. Sem grandes sustos, o primeiro tempo termina com placar favorável ao rubro-negro. O time estava há 45 minutos da decisão inédita.
Meu coração não vai aguentar, pensei. Beijo o escudo do meu time para dar sorte. Olhei bem para tudo em volta, esfrego as palmas das mãos antes do início do segundo tempo. Só depois de uns 15 minutos, percebo que já troquei de lugar umas três vezes. São os nervos. É o jogo.
O tempo vai passando e já ouço foguetes. Como torcedor de muitos anos, penso que ainda é cedo para fazer festa. Dos 30 minutos em diante, o jogo fica mais amarrado. Faltas, bola que não volta, jogador dando chutão, substituições para gastar o tempo, e assim segue até que o juiz apita o final da partida. Os foguetes de antes pareciam prenunciar. Costumo dizer que no futebol duas coisas são fundamentais: competência e sorte. O Atlético anda jogando com estes dois aliados.
Antes disso, aos 39 minutos, já tinha ido dormir. Acordo com mais foguetes. Eram muitos. Ainda penso que poderia ser a torcida adversária festejando o insucesso do inimigo. Ouço uma buzina contínua de um carro que passa na rua de cima. Não seria a festa do insucesso, não. O Atlético está mesmo na final da Copa do Brasil.
Antes de novembro acabar, teremos a decisão Rubro-Negra. A primeira partida aqui e a segunda lá. Estarei de novo vestindo a camisa do meu time, esperando por mais esta decisão.
Estaremos mais uma vez juntos. A corrente vermelha e preta nunca foi tão grande. Agora, todos pelas mesmas cores, mas por times diferentes. Aí está uma das graças do futebol.

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Uma ideia sobre “A graça do futebol

  1. Célio Heitor Guimarães

    Beleza, Sérgio! Aí está uma das coisas boas da vida. Refiro-me ao seu texto.

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