9:08MORRER

de José Maria Correia

 

Morrer para sempre.
Definitivamente
Como morreram meus pais,
Morrer sem uma lápide
Em silenciosa conformidade.

 

Ausentes as lágrimas
E os prantos perenes
Sem cortejos de guardas-chuvas
Nem pÉtalas de lírios
Nas calçadas negras
Dos cemitérios solenes.

 

Morrer sem a garoa
Nem a geada de Curitiba
Bem longe das cruzes
E das trombetas dos anjos
De faces de crianças
E cabelos cacheados

 

Morrer distante das capelas
Das alamedas de ciprestes
Dos castiçais, das velas
E das elegantes  vestes.

 

Morrer distraído
No esquecimento,sem esperar
O doutor, o padre ou o pastor
Nem o dia , a semana
Ou a última carta de amor.

 

Morrer sem notícias
Avisos ou telefonemas,
Andando na rua,
Quando fecham os cinemas,
Morrer solitário
Sem obituário,
Nem cartório ou inventário.

 

Morrer judeu,
Cristão, muçulmano.
Morrer ateu
Sem destino eterno
Paraíso ou Inferno.

 

Apenas ir-se, como vão
As ondas que quebram
E desaparecem como
Os rastros carregam.

 

Ir quem sabe ao encontro
Sem temer
Dos vagos astros
Que um dia no infinito
Irão certamente morrer

 

Morrer como um dia morrem
As  imorredouras esperanças
E também todos os sonhos
Sem tristezas ou lembranças,
De passagem,como quem
Nesta vida foi sempre passageiro

 

Indo e vindo,resignado
Mas com um olhar triste,
Profundo,de quem está
Sempre se despedindo,
Sempre partindo
Sempre sentindo
Que sem nada falar
Está dizendo Adeus…

 

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