6:19Aos mestres, com carinho (e tristeza)

por Célio Heitor Guimarães

 

Se houvesse uma enquete em que me perguntassem qual a figura mais importante do mundo, eu não teria dúvida ao responder: o professor! (assimmesmo, como exclamação). Especialmente o (ou a) professor(a) de primeiro grau ou ensino fundamental, sei lá como está sendo chamado agora – aqueles que transformam meninos e meninas em cidadãos. Por isso, a rigor, professor nem é profissão. É vocação e oferecimento de amor. Para Rubem Alves, que dedicou a vida à educação, não existe coisa mais bela que ser um educador.

 

Terça-feira, dia 15 de outubro, foi o Dia do Professor. Houve quem comemorasse? Os mestres certamente não. Não têm motivo para isso. No Brasil varonil, de riquezas mil, o professor é a figura mais aviltada, incluindo no adjetivo os sinônimos desrespeitada, desprezada, desvalorizada, desonrada e todos mais os des aplicáveis. É uma vergonha o que se faz com o professor neste país! Particularmente os governos, em suas variadas graduações.

 

Quanto ganha um desembargador, um procurador do Estado, um delegado de polícia, um conselheiro do Tribunal de Contas, um deputado, um senador, um governador, um prefeito de Capital, a presidente Dilma? Em torno de R$ 26 a 28 mil, fora o “alho”, que aqui quer dizer o “por fora” sem o mau sentido, ou seja, as vantagens e/ou estipêndios indiretos, como auxílio-moradia, auxílio-alimentação, auxílio-transporte, auxílio-saúde, verba de Gabinete, verba de representação, verba indenizatória e o diabo que o parta.

 

Quanto ganha um executivo, um empresário de sucesso, um advogado com boa banca, um arquiteto/decorador que atende às madames em ascensão social ou um médico sem vínculo com planos de saúde? Quantias impossíveis de ser calculadas pelo cidadão comum.

 

E qual é o salário de um professor? Dá até vergonha responder. No máximo R$ 3 mil e alguma coisa, lá na cidade de Porto Alegre, que está acima da média nacional. O vencimento inicial de um professor de educação básica no Brasil, que trabalhe 40 horas por semana, hoje é R$ 1.567. Mas há muito Estado que não cumpre nem esse mínimo legal. Aqui no Paraná, em outubro o vencimento mensal inicial bruto será de R$ 2.886,32, aí já incluídos o auxílio-transporte, a última parcela de 3,94% referente à equiparação salarial e a incorporação de 0,6% concedidos recentemente pelo benevolente governo do jovem Richa (Aliás, a grande homenagem prestada pelo governador aos professores no seu dia foi, este ano, um autoelogio à administração estadual lido pela atriz Nathália Timberg na TV). Os docentes de instituições particulares percebem um pouco mais, assim como os do ensino superior, com mestrado e doutorado – algo em torno de R$ 4,5 a R$ 8 mil. Espera-se que não tenham sido tais concessões governamentais que levaram a economia estadual à bancarrota… Quer dizer, é de chorar!

 

No Brasil da igualdade social da prestimosa companheira Dilma e no Paraná da valorização do ensino pelo ativo governador Carlos Alberto, os professores têm de lutar por centavos para sobreviver. Tendo em mente uma certeza indiscutível: sem eles, os humilhados e mal remunerados mestres, não haveriam desembargadores, procuradores, delegados, conselheiros do TC, deputados, senadores, executivos, advogados, engenheiros, decoradores, médicos, tampouco ascendentes madames, a presidente Dilma ou o governador Richa. Alguma coisa está errada aí.

 

Professor não é uma atividade importante. É essencial. Sem ela o mundo não existiria. Por isso, ao beijar em casa minha mulher – que foi doce normalista, “vestida de azul e branco, trazendo um sorriso franco no rostinho encantador”, como flagrou o poeta, e que dedicou anos de sua vida às salas de aula, transmitindo conhecimento, sonhos e amor, para fazer jus, hoje, a pouco mais de mil reais por mês, pagos pelo generoso governo do Estado –, estou homenageando com carinho todos os mestres deste país, certo de que não existe missão mais nobre do que ensinar, porque a educação é o alicerce da civilização e o educador é um apaixonado pelo ser humano.

 

Só os que mandam não sabem disso. Certamente não foram também bons alunos.

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Uma ideia sobre “Aos mestres, com carinho (e tristeza)

  1. Jeremias, o bom

    Vejo como escárnio a propaganda protagonizada pela atriz global, que provavelmente custou o equivalente a milhares de horas-aula, rasgando elogios ao governante que nada faz pelos professores, a exemplo de todos os seus antecessores nesses últimos 40 anos. Ouso dizer que o último governador que de fato valorizou o professor foi Paulo Pimentel, no final dos anos 60.
    Mas as atrizes são assim, pagas para representar. E bem pagas. Já os professores… São sempre engabelados com o discursinho hipócrita e malandro da “lei da responsabilidade fiscal”.
    Há que se lembrar também do descalabro petista que há dez anos tenta sacudir a questão educacional com a abertura de centenas de universidades, escolas técnicas, com Enem, com cotas raciais e sociais, e um mundo de outras invencionices, mas que não toca no essencial: o salário do professor.
    Sem aquele que ensina, não há educação!
    Pobre país que assiste embriagado a esse flaflu entre tucanos e petistas e mata seus professores.
    É a verdadeira guerra dos babuínos…

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